A democratização de oportunidades


Arnaldo Niskier

Com a necessidade de atendimento educacional, sobretudo em países socialmente desfavorecidos, esses novos mecanismos abrem perspectivas de democratização de oportunidades como jamais se viu. Assim, pode-se ligar a Internet a uma escala planetária de ofertas, valorizando o conceito de direitos humanos.
 
A que se devem agregar as potencialidades da modalidade de Educação à Distância, hoje, em plena expansão, pois se trata de um fator reconhecidamente barato e eficaz. A EAD se vale dos avanços científicos e tecnológicos e tende a um crescimento explosivo, mesmo em nações subdesenvolvidas, onde as inovações custam mais a chegar, mas acabam se beneficiando também do progresso.
No Brasil, a EAD está vencendo preconceitos iniciais e conquista cada vez mais estudantes, com mais de 1 milhão e 300 mil matriculados. Há 1.200 cursos à distância no país e a alta nos vestibulares é bastante significativa: cresceu 80% nos últimos dois anos. A modalidade atrai um número cada vez maior de adeptos, embora a maioria pertença ao ensino privado (cerca de 60% do total).
 
Hoje, com o avanço tecnológico, os alvos da EAD passaram a ser os indivíduos que já estão inseridos no processo produtivo, com faixa etária acima dos 25 anos e problemas de tempo ou geográficos, para frequentar uma faculdade regular. São também gerentes de bancos ou de supermercados, por exemplo, que se matriculam nos cursos de educação à distância com o objetivo de melhorar o desempenho em seus trabalhos. E sem a necessidade de abandono de emprego ou de afastamento da família. 
O esforço para integração de plataformas deve incluir softwares, equipamentos e serviços de telecomunicações. Há diversas experiências em andamento, a partir de autorizações do Conselho Nacional de Educação. Mas o número ainda é pequeno para as imensas necessidades pedagógicas do país.
 
Cerca de 25 milhões de brasileiros com mais de 16 anos têm acesso à Internet, mas devemos pensar que somos uma população superior a 204 milhões de habitantes. Ainda é pequeno o índice dos que têm esse privilégio, mais adstrito a escolas particulares, tornando bem visível o fosso entre incluídos e excluídos digitais, no quadro geral de pobreza do País.
 
O professor, muito além de letras e números, transmite valores. Na escola o aluno aprende a pensar. Essa é a sua função essencial: desenvolver a inteligência reflexiva. Ao focar a ética é impossível dissociá-la da educação e da qualidade da escola. É também função da escola desenvolver o potencial de liderança que existe em todo ser humano.
 
Todo o processo educativo tradicional é baseado na cognição, ou seja, como se aprende e como se ensina. O mais importante no futuro será a metacognição: o aluno terá que entender o processo a que está submetido e conhecer seus avanços, obstáculos e deficiências. Isso abre a porta para um novo ponto: a classe não se dividirá mais entre aqueles que sabem e os que não sabem, mas dará espaço para um terceiro, que não sabe o conteúdo, mas sabe onde encontrá-lo. No mundo atual e futuro, é mais relevante a atitude de uma pessoa diante de uma pergunta para a qual ela não tem resposta, porque o acesso à informação não é mais crítico.

A sociedade do conhecimento é uma sociedade de aprendizagem. O sucesso econômico e uma cultura de inovação contínua dependem da capacidade de atualização socioeducativa. A era atual não funciona mais a partir da força das máquinas, mas a partir da força do cérebro, do poder de pensar, de aprender e de inovar. Pretende-se trocar a educação conteudística, marcada pelos decorebas, por uma educação comportamentalista que envolve, basicamente, a formação do caráter dos jovens, transmitindo tanto conhecimentos, quanto comportamentos éticos, práticas sociais e habilidades gerais.