Fui visitar Ana Maria Gonçalves, a primeira mulher negra a ser eleita para a Academia Brasileira de Letras, depois de 128 anos de existência. Uma visita simpática, cercada de todo carinho. A escritora de “Um Defeito de Cor” utiliza  uma linguagem mais inclusiva.

 

Ela ocupou a vaga que pertenceu, com muita honra, à figura inexcedível do linguista  Evanildo Bechara. Deixará muita saudade.

 

Ana é uma mineira de 54 anos, que passará a ocupar a cadeira nº 33. Segundo suas declarações, a Academia determinou repensar nos aspectos da diversidade, em que primeiro se cogitou o nome de Conceição Evaristo, mas não colou. Em sua primeira eleição, Conceição não passou de um voto e isso teve uma explicação. Ela entrou na disputa criticando a postura da Academia e isso causou má impressão. São suas declarações: “Pensei que posso levar para a ABL um público leitor que se via representado pela leitura que não se via representado pela literatura que se produz lá dentro. Tenho muita vontade de agir institucionalmente em prol dos novos escritores e novas tecnologias de saber, incorporando a oralidade e a “escrevivência”, que são modos  muito nossos de fazer literatura.

 

Ana Maria é considerada uma autora de virada na literatura negra brasileira. O livro foi publicado em 2006, com olhos voltados para a elaboração da escravidão como um dos pilares da identidade do país. A lista ficou um tempo nas obras de maior vendagem. O livro é formulado pelo conflito e  não pela idealização.

 

“O Defeito de cor” já vendeu mais de 180 mil exemplares e ficou como um marco de reconhecimento de que a ABL desejava a diversidade. A verdade é que a partir da eleição de Krenak, índio, considerava exatamente isso. Passou-se a considerar que a ABL pensava  exatamente essa representatividade. A eleição desses dois  profissionais, Krenak e Ana Maria Gonçalves, mostrou uma nova postura da Casa de Machado de Assis.

 

O que se deseja, segundo seus dirigentes, é que eles não podem ser elementos únicos dessa representatividade.