Um grande humanista


Arnaldo Niskier

“O país perdeu uma referência não apenas na área econômica, mas um humanista de primeira grandeza, de uma estatura intelectual admirável” – disse o presidente da Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo José Roberto Tadros, a propósito do falecimento do ex-ministro Ernane Galvêas.
 
Contemporâneo de Antônio Delfim Neto no Governo e ex-presidente da Aracruz Celulose, Galvêas teve uma formação eclética, em ciências contábeis, economia e direito, tendo concluído o mestrado em economia pela Universidade de Yale, o que foi muito útil para os vários cargos exercidos, sempre com muita competência, no Governo Federal.
 
Os amigos de Ernane Galvêas – e eram muitos – torciam para que ele chegasse ao próximo mês de outubro em boas condições de saúde para comemorar devidamente os seus primeiros 100 anos de vida. Mas o destino não permitiu que isso acontecesse. Foi interrompida a  vida de um dos maiores economistas que o Brasil conheceu, em todos os tempos.
 
Nos últimos anos, Galvêas dirigia o Conselho  Técnico da Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo. Todas as terças-feiras, pontualmente, comandava as sessões em que pontificavam alguns dos grandes nomes da nossa economia, a partir de José Roberto Tadros, presidente da CNC, a quem Galvêas prestava uma impecável assessoria, com os seus preciosos e oportunos relatórios. Fará muita falta.
 
Embora economista, com vitoriosas passagens na presidência do Banco Central (1968-1974 e 1979-1980) e ministro da Fazenda de Janeiro de 1980 a março de 1985, o capixaba Ernane Galvêas tinha um grande apreço por educação, a que se referia de modo constante. Foi decisivo na criação da Escola Sesc de Ensino Médio, na Barra da Tijuca, que se tornou um símbolo nacional. Viajamos pelo Brasil e pelo exterior para recolher experiências, por sua inspiração, para montar o histórico projeto.
 
Além das atividades de economista, Galvêas foi também professor dedicado. Lembro dos seus tempos gloriosos de professor da Faculdade de Economia e Finanças do antigo estado da Guanabara. Era de uma dedicação  inexcedível, como demonstrou também nas inúmeras conferências realizadas.
 
Nós últimos anos, dedicou-se à consultoria na Confederação Nacional do Comércio, que reconheceu em nota pública os seus inegáveis méritos: “Uma referência não apenas na área econômica, mas um humanista de primeira grandeza, de uma admirável estatura intelectual.”
 
A coroa mais bonita, no seu enterro, foi a enviada pela Fundação Getúlio Vargas: “Homenagem a um grande brasileiro” – Galvêas deixa um vazio difícil de preencher. Lia quatro jornais por dia e recortava o que havia de importante para municiar a CBC. Onde encontrar outro igual?