A Fonte da Virtude


Arnaldo Niskier

A base do estoicismo é aceitar as coisas como elas são. A doutrina filosófica de Zenão de Cicio, seu fundador, também chamada Doutrina do Pórtico, local de reunião dos seus discípulos, durou cerca de cinco séculos. Suas figuras mais notáveis foram Sêneca e Epíteto. Para eles, temos que aceitar as nossas imperfeições(o cristianismo pegou algumas ideias do estoicismo). Segundo os seus cultores, “a adversidade é a melhor fonte da virtude”. Devemos ser guiados pela paixão, com os naturais defeitos de cada um de nós.

O estoicismo é uma forma de panteísmo. Tornou-se relevante por causa de sua moral: a obediência apenas à razão, ficando indiferente às circunstâncias exteriores (fortuna, saúde, dor etc). Na Escola Secundária Angel Guimará, onde foi gravada a série espanhola “Merlí”, a palavra estoicismo é muito utilizada, sobretudo com o sentido de austero. Como exemplo, há uma cena em que o professor se dirige a um aluno e sugere: “Seja estoico e deixe aquela menina em paz.”

Depois, focaliza Nicolau Maquiavel (1469-1527), que viveu em Florença, no tempo dos Médici. Pensando numa Itália unificada, esboça a figura do príncipe capaz de promover um Estado forte e estável. Valoriza a ciência política e escreve, em 1513 “O príncipe”, com suas interpretações e controvérsias. Trata-se de uma sátira que procura desmascarar práticas despóticas. Chamamos de “maquiavélica” uma pessoa sem escrúpulos, traiçoeira, que usa da mentira e da má-fé para atingir seus fins. A ela atribui-se a frase “Os fins justificam os meios”. Constitui dever do príncipe manter-se no poder a qualquer custo. Mas Maquiavel distingue o bom governante, forçado pela necessidade a usar da violência visando ao bem coletivo, e o tirano, que age por capricho ou interesse próprio. O príncipe deve ser um indivíduo especial, dotado de “virtú”(virtude no sentido grego de energia, força ou valor). Maquiavel se baseava nas pequenas tiranias italianas do século XVI. Isso não pode ser comparado às ditaduras modernas. Segundo o clássico de Maquiavel, “ao apoderar-se de um Estado, o conquistador deve determinar as injúrias que precisava levar a efeito, e executá-las todas de uma só vez, para não ter que renová-las dia a dia.”