As vantagens da reforma


Arnaldo Niskier

Numa prova de que dispõe de musculatura no Congresso Nacional, o presidente Michel Temer aprovou a polêmica reforma do ensino médio, com algumas inovações essenciais.  O projeto passou pela Câmara dos Deputados e agora subirá à consideração do Senado da  República, se  a PGR não atrapalhar.
 
Quais foram as principais conquistas, nem todas bem recebidas pela maior parte do estudantado  brasileiro? Uma delas foi a obtenção de maior autonomia na escolha dos conteúdos.  Isso pode esbarrar na falta de professores especializados e aí vale a sugestão do reitor Celso Niskier (UniCarioca): liberar as Universidades para ceder os mestres categorizados, mesmo que aparentemente não tenham a titulação devida.  Um engenheiro, por exemplo, pode perfeitamente lecionar Matemática no ensino médio, desde que tenha passado por um breve treinamento.  É o caso de notório saber.  Os Conselhos Estaduais de Educação podem ser muito bem mobilizados para esse necessário e inteligente reforço.

Como concluiu a Academia Brasileira de Educação, em trabalho oferecido pelo professor Carlos Alberto Serpa ao Ministério da Educação, há muito o  que fazer em matéria de entrosamento, como o aproveitamento da capacidade ociosa dos  laboratórios das Universidades no período da tarde.  Poderia ser oferecido esse espaço às escolas médias, otimizando o investimento  feito no setor, hoje com capacidade ociosa em parte do dia.  Não temos disponibilidade para o desperdício.

Pelo texto aprovado na Câmara dos Deputados, 60% do currículo devem  ser comuns a todos, enquanto 40%  vão depender da preferência individual em áreas específicas do conhecimento.  O assunto foi bem estudado pela Comissão do Senado, presidida pelo Senador Pedro Chaves, que é  um conhecido educador brasileiro e que ouviu diversas entidades, como os especialistas da Fundação Cesgranrio.  É preciso  que se faça esse entrosamento de modo inteligente, para  aproximar bem mais  os adolescentes das escolas.

No caso, considerar adequadamente os eixos em que se vai lastrear a base curricular do ensino médio , valorizando as  Linguagens, a Matemática, as Ciências Humanas, as Ciências da Natureza e a indispensável Formação Técnica Profissional. Temos por aí um caminho inevitável para dar vida nova à nossa educação, ligando melhor os  estamentos já existentes.

Não abandonamos matérias como Filosofia, Sociologia, Educação Artística e Educação  Física, agora combinadas com outras áreas, e assim o currículo do futuro ganhará maior e melhor dimensão. Vamos esperar como o Senado da  República irá se manifestar, evitando o formato engessado e enciclopédico que vinha marcando o ensino médio brasileiro.  A  hora é de mudança.