Academia conquista Zuenir


Arnaldo Niskier

Não é de hoje que a Academia Brasileira de Letras e o escritor e jornalista Zuenir Ventura se namoram. Pronto, deu casamento. Ele foi eleito praticamente por 
unanimidade e todos serão felizes para sempre.
 
Zuenir é um mestre na arte jornalística, tendo servido de modelo para muitos jovens que ingressaram na fascinante carreira. Aliás, o mesmo aconteceu na ESDI(Escola Superior de Desenho Industrial), da qual Mestre Zu foi professor durante muitos anos. Sempre muito apreciado por seus alunos.
 
Com passagens pelo Jornal do Brasil, revista Veja, Visão e Fatos & Fotos (quando convivemos por um bom tempo) e agora em O Globo, Zuenir é uma figura amável, competente, de um texto encantador. Quando produziu uma série sobre Chico Mendes, indo ao local de sua moradia, na selva amazônica, tornou-se imperiosa a 
necessidade de transformar as reportagens impactantes no livro “Chico Mendes – Crime e castigo”, de grande sucesso, o mesmo que marcou outras obras de destaque, como 
“Cidade partida” e “1968 – O ano que não terminou”. É um autor bem sucedido.
 
Natural de Além Paraíba (MG), com algum tempo de estudos em Nova Friburgo (Colégio da Fundação Getúlio Vargas), Zuenir é muito aplicado em tudo o que faz, estimulado por um sólido casamento com a colega de profissão, Mary A. Ventura. Estudioso do fenômeno da inveja, escreveu um livro sobre a própria, com o título de “Mal Secreto”, admitindo por princípio que ela existe. Mas procura se afastar dos seus malefícios, curtindo o cotidiano, em que há um tempo especial para a neta Alice, muitas vezes citada em suas crônicas pela inteligência e presença de espírito.
 
Uma conversa com ele é sempre muito animada, sobretudo quando entra em pormenores das duas de suas maiores reportagens: a do Chico Mendes, quando trouxe para o Rio o menino Genésio dos Santos, testemunha que permitiu levar os assassinos para a cadeia, e a de Vigário Geral, quando a favela estava dominada por uma facção. 
Conviveu uns tempos com essa realidade, para “sentir” de fato o que aquilo tudo representava. Daí o sucesso das empreitadas.
 
Amante da liberdade, da justiça social e da democracia, é reconhecido pela firmeza de suas posições. Não transige com a mentira. Fingimento só na ficção. Por 
isso, se autoproclama aficionado de Euclides da Cunha, que para ele é o nosso maior jornalista literário, com a obra-prima de “Os Sertões”.
Zuenir está atento ao progresso da inclusão digital, como não poderiadeixar de ser, mas chama a atenção para os cuidados devidos: “A Internet pratica um 
jornalismo discutível. Suas informações não são checadas e isso podem levar à prática de lesões ao princípio da verdade.” Sábias palavras.