Marques Rebelo: A estrela sobe


Arnaldo Niskier

Marques Rebelo notabilizou-se com esse pseudônimo.  O seu nome verdadeiro era Eddy Dias da Cruz, carioca nascido em 1907 e que viveu na sua cidade até o ano de 1973, quando faleceu aos 66 anos de idade.  Faz parte de um grupo de elite de escritores cariocas, entre os quais podemos citar Machado de Assis, Lima Barreto e o nosso confrade Carlos Heitor Cony.
 
Bisneto do II Barão da Saúde, chegou  a estudar três anos de Medicina, no final da década de 20, mas abandonou os estudos para dedicar-se de corpo e alma ao jornalismo e à literatura.  Mais tarde concluiu o curso de Ciências Jurídicas e Sociais na Faculdade Nacional de Direito da então Universidade do Brasil.  O seu pendor, no entanto, estava mesmo voltado para a literatura.

Adepto da escola realista, escreveu  o primeiro livro em 1931, com o título de Oscarina.  Depois vieram Três Caminhos, do qual  o conto Vejo a lua do céu tornou-se telenovela; Marafa; o clássico A Estrela Sobe (1939) e em seguida o não menos famoso O Espelho Partido.  Escreveu também diversos contos, a peça teatral Rua Alegre, em 1940, crônicas, biografias (dedicando-se à vida e obra de Manuel Antonio  de Almeida, literatura infantojuvenil (10 livros) e literatura didática, em que se insere a Antologia Escolar Portuguesa, de 1970.
 
Homem incansável, foi  autor de inúmeras traduções, como a de Ana Karênina, de Tolstói, em 1948, além de ter alcançado outros autores, como Flaubert, H.G. Wells, Júlio Verne, Balzac e Franz Kafka.
 
Tive o prazer (imenso) de conhecer pessoalmente Marques Rebelo.  Foi no começo da minha carreira jornalística, no idos de década de 50, quando trabalhava no jornal “Última Hora”.  Samuel Wainer, em sua época dourada, comprou também a Rádio Clube do Brasil (PR-A3).  E entregou a direção ao seu amigo Eddy Dias da Cruz.  Ele logo valorizou o lado jornalístico da emissora e deu força ao setor de esportes, dirigido por Raul Longras.  Havia uma parceria muito estreita entre a rádio e o jornal, tanto que muitos repórteres da “Última Hora” eram apresentadores na emissora de rádio, entre eles eu me encontrava, transmitindo notícias – e até jogos de futebol, como ocorreu na estreia com um Fluminense x Portuguesa, no campo do América F.C.
 
Por falar no clube de Campos Sales, Marques Rebelo era completamente apaixonado pelo América, ao qual dedicou muitas crônicas de  louvor e encantamento.  Era levado por um pensamento que ficou  para sempre guardado: “Nenhum minuto é  vazio, desde que possamos sonhar.”
 
E tivemos  a vida acadêmica de Marques Rebelo, a partir de 1965, na cadeira nº 9.  Ao tomar posse, revelou-se “um carioca de  Vila Isabel, bairro que tem nome de princesa, mas é proletário e pequeno-burquês, e cuja gente humilde foi o básico material de sua ficção e do seu amor.”  Marques Rebelo chegou a participar da diretoria da Casa de Machado de Assis, depois de retratar a cidade nos últimos anos pré-industriais, quando na Tijuca ainda se faziam serenatas, a Lapa estava no auge e casais de namorados passeavam de bonde.