Ta lento
Arnaldo Niskier
Como era esperado, o pólo de Resende, que abrange os municípios de Itatiaia e Porto Real, está bombando. Cresce a procura por uma riqueza tão importante quanto o pré-sal: recursos humanos qualificados. Como as nossas escolas, lamentavelmente, não estão dando conta do recado, as indústrias automotivas, têxteis, siderúrgicas e de cosméticos, entre outras, recorrem ao que é mais natural, nessas horas: mão de obra estrangeira.
Depois dos 600 técnicos chineses que ajudaram o pólo de Itaguaí, agora é a vez de técnicos europeus, que fogem da crise econômica dos seus países, para tentar a vida nos trópicos. Por isso, na região, é tão comum a babel dos vários idiomas ouvidos, com destaque para o inglês, o francês e o alemão. Se a ONU quiser fazer uma filial em Resende, não faltará mão de obra.
É possível sentir essa realidade através das pesquisas feitas pelo Centro de Integração Empresa-Escola e as conclusões do Congresso Corporativo, realizado na Firjan. As oportunidades comerciais não estão sendo desprezadas, como primeira opção, mas o alvo principal costuma ser o setor secundário (indústria), onde se paga melhor. A UERJ tem um centro de expansão e inovação tecnológica, na região, onde desenvolverá, com o apoio da empresa MAN, três novos cursos de engenharia especializada. É um projeto pelo qual tem muito carinho o reitor reeleito Ricardo Vieiralves.
Já levamos uma feia garfada, nos royalties do petróleo. Se não houver uma vigorosa reação, no que tange às profissões de nível intermediário, com a formação de quadros competentes, estaremos condenados ao atraso. Aliás, ninguém pretende construir esse edifício a partir do 5º andar. Tudo começa na maltratada educação infantil, onde nossas crianças não estão recebendo a formação adequada em termos cognitivos e não cognitivos, como sempre quis Piaget.
Vale ainda uma referência a aspectos colaterais desse processo, como pudemos verificar na distribuição das refeições escolares. São precárias, insuficientes, no momento em que os cérebros devem adquirir o seu peso normal – e isso provoca um déficit de neurônios e suas conexões que é praticamente impossível recuperar mais adiante. É bonito discursar a respeito da necessidade do aprendizado de outras línguas, de uma ação corajosa na apreensão de conhecimentos de tecnologia da informação, de nanotecnologia, mas se falta a base, como se explicaria o milagre da competência?
O mundo desenvolvido faz novas exigências, na educação, e impele à formação adequada de talentos. Nos últimos 10 anos, o peso da nossa economia no PIB mundial estacionou nos 2,9%. A India alcançou os 5% e a China saltou de 7 para 13%, isso para ficar só no BRIC. Quando chegará a nossa vez, com lastro numa educação renovada? Se o processo tá lento, é preciso agir mais depressa.