Tributo a Fernanda Montenegro


Arnaldo Niskier

Nos meus 35 anos de Academia Brasileira de Letras, tive o privilégio de comparecer à posse de mais de 30 imortais. Nenhuma cerimônia teve mais gente do que na homenagem à atriz Fernanda Montenegro. Ela falou lindamente por mais de 40 minutos e foi saudada por Nélida Piñon, representada por Fernanda Torres, filha da consagrada atriz. Recebeu merecido tributo.

Foi uma noite de reverência ao teatro. Muitos nomes foram lembrados com todo respeito, como  Ítalo Rossi, Paulo Autran, Bibi Ferreira, Dulcina de Moraes e Sérgio Brito, além das homenageadíssimas  Cacilda Becker e Tônia Carrero. Todos com muitos  méritos.

 Conheço Fernanda Montenegro há bastante tempo. Pelo menos desde a década de 50, quando nos encontramos numa reunião de pais e mestres no Instituto Souza Leão, do qual eu era o diretor. A filha Fernanda Torres fazia o ginasial e a mãe, sempre solícita, prestigiava os seus passos escolares. Desde então, não nos perdemos de vista, para alegria minha.

Ela foi uma boa amiga do escritor Nelson Rodrigues, com quem eu trabalhei desde os tempos da “Ultima Hora”. Fernanda tem por ele, além de uma sólida amizade, uma imensa admiração. Já interpretou várias das suas obras, como “O asfalto selvagem”, e promete repetir os espetáculos, já como imortal, no Teatro R. Magalhães Jr., que tive a honra de batizar quando fui presidente da ABL(período 98-99).

Voltando à posse na ABL, Fernanda disse que a vida é um palco, relembrando um conceito de Shakespeare. Não deixou de criticar o atual estágio da cultura brasileira: “Resistimos, pois somos eternos.” E recebeu o elogio da primeira-secretária Nélida Piñon: “Fernanda tem o tamanho do Brasil.” Está com 92 anos de idade e a vitalidade de uma jovem intérprete.

Para o acadêmico Inácio de Loyola Brandão, não há ninguém maior do que ela, no campo da arte e da literatura. Admirável. Esse conceito foi repetido pelo imortal Domício Proença Filho e outros acadêmicos que se pronunciaram após o memorável discurso da nova participante da Casa de Machado de Assis. Fernanda, na sua oração, prestou homenagem ao marido, o ator Fernando Torres.