Futebol na Academia


Arnaldo Niskier

Foi uma sessão extremamente alegre e caracterizada pela fala predominante sobre a vida desportiva de alguns imortais.  O Acadêmico Marcos Vilaça teve a delicadeza de se referir ao passado de atleta do seu confrade Arnaldo Niskier.  Citou suas 56 medalhas, conquistadas como nadador e jogador de basquetebol e futebol, defendendo as cores do América e do Clube Municipal. Por este chegou ao título carioca de basquetebol da Segunda Divisão, no ano de 1957.      O tema quase incendiou o plenário  da Academia Brasileira de Letras.  O Acadêmico e poeta Ferreira Gullar saiu da sua tradicional timidez para contar que, jovem ainda, em São Luís, participou de algumas partidas de futebol. Magro e alto, ganhou o apelido de “Periquito”. Foi uma gargalhada geral.   Outros imortais lembraram experiências similares e alguns citaram suas paixões clubísticas, o que transformou a sessão numa prova de que a casa de Machado de Assis não despreza o esporte das multidões.
 
Quando terminou a reunião, veio à luz o fato de que tínhamos esquecido de citar o poeta Coelho Neto, torcedor fanático do Fluminense. Se José Lins do Rego foi lembrado como torcedor apaixonado do Flamengo, por que esquecer o pai do craque Preguinho? Então, me dispus a elaborar uma efeméride para recordar (o que faria na ABL pela segunda vez) quem tinha sido Coelho Neto para o esporte carioca e brasileiro. 
 
Além, é claro, de mencionar os seus méritos de “príncipe dos nossos poetas.” Coelho Neto, filho de português com índia civilizada, nascido no Maranhão, fez vida literária no Rio de Janeiro. Foi professor de Literatura do Colégio Pedro II. Com grande colaboração na imprensa, deixou 112 obras publicadas e 50 peças teatrais. Alcançou a presidência da Academia Brasileira de Letras. Sua obra foi diversificada, o 
que contribuiu para a crítica dos invejosos. Escreveu romances, contos, crônicas, teatro, poesia memórias, conferências, antologias e livros didáticos. Segundo Afrânio Coutinho, na sua apreciada enciclopédia de Literatura Brasileira, editada pelo MEC, em 1990, “o modernismo condenou-o como representante do passadismo, acusado de afetação, palavreado rebuscado e enfático, abuso de termos incomuns, prolixidade e helenismo.”
 
Era muita coisa para um só estilo, mas as críticas, com o tempo, foram atenuadas e ele teve o reconhecimento da sua obra. Com a esposa Gabriela, teve 14 filhos e lutou muito para sustentar a família. Entrou para o quadro social do Fluminense Futebol Clube, do qual se tornou fanático torcedor. Alguns dos seus filhos defenderam as cores do clube tricolor, o mais famoso deles, Preguinho. Num FlaxFlu, em 1912, entrou em campo com a bengala em riste, querendo pegar o juiz, que não concordou com a defesa de uma penalidade máxima por parte do grande goleiro Marcos Carneiro de Mendonça (que começou a carreira no América F.C.) Se a turma do deixa disso, que já existia na época, não tivesse interferido, o nosso acadêmico teria acabado com o juiz, que na época era chamado de referee.
 
A paixão pelo Fluminense era tão grande que foi autor do seu primeiro hino, para comemorar a inauguração da terceira sede. O coração era mesmo tricolor.