O inimigo do Computador


Arnaldo Niskier

O escritor e acadêmico Ariano Suassuna esteve no Rio de Janeiro.  Como sempre, sua aula-espetáculo foi um sucesso, reunindo centenas de alunos e professores no Teatro R. Magalhães Jr., da Academia Brasileira de Letras.  O pretexto foi o encerramento da Maratona Escolar, promovida pela Secretaria Municipal de Educação, que teve o dramaturgo e poeta paraibano como objeto de estudos da garotada, empolgada pelas suas obras, com destaque especial para “O auto da compadecida.”

De início, sentado numa cadeira no palco, Ariano fez questão de esclarecer uma dúvida:  “Disseram que eu sou inimigo do computador.  Não  é bem isso.  O computador é que é meu inimigo.”  Explicou que teve uma experiência extremamente desagradável com o uso da máquina:
 - Bati o meu nome no computador.  Ariano.  Veio Ariano.  Coloquei o nome do meio (Villar).  Veio “vilão”.  Não entendi.  E fiquei indignado mesmo quando bati Suassuna.  Com tantos esses, o computador, no corretor ortográfico, colocou “assassino”.  Então, em vez de ser Ariano Villar Suassuna, virei Ariano Vilão Assassino.  Não é para virar inimigo dele?
 
Como  sempre, contando uma série infindável de causos, Ariano foi aplaudidíssimo.  Mas também provocou choros de emoção, ao contar histórias tristes, como o assassinato do seu pai.  Durante uma hora, apesar dos seus 85 anos bem vividos, não demonstrou nenhum cansaço. Cada vez que discorria sobre determinada passagem da sua obra ou da sua vida era coroado de aplausos.  Como ao explicar a frase: “Quem lê nunca está sozinho.”
 
Reclamou da exigência dos pernósticos em relação ao uso da língua portuguesa.  O nordestino fala “nóis”  e é assim que eu escrevo.  Mas quando na televisão, por exemplo, forçam a barra para exigir que atores ou atrizes falem na prosódia que não dominam, fico com raiva.  Isso logo se nota.   “Certos diretores pensam que somos idiotas.”
 
Ariano repetiu na ABL (onde participou do tradicional chá acadêmico) que não é otimista, nem pessimista, mas acha que hoje se caminha melhor na questão da desigualdade social.  Foi bem objetivo nas suas considerações: “Os otimistas costumam ser ingênuos e os pessimistas, amargos.  Sou um homem da esperança.  Sonho com o dia em que o sol de Deus dará justiça para todos.”
 
Falou ainda do orgulho de ser nordestino e do absoluto desinteresse pelas viagens internacionais: “Nunca saí do Brasil e não sinto a menor necessidade de fazê-lo.  Sei de tudo utilizando a televisão e o computador.”  Ainda confessou que adora as novelas de televisão, como forma de expressão da nossa cultura.  E confessou que ainda não está na hora de parar de produzir:  “Quando vem a inspiração, não há razão para driblá-la.  Por isso mesmo, hoje, estou às voltas com o próximo livro.”  Quando lhe perguntei o título, levei um susto:  “O jumento sedutor.”  Prometeu que íamos no surpreender com o seu enredo.  Esperemos.