Falta de respeito


Arnaldo Niskier

Os meios universitários do Rio de Janeiro acompanham com muito interesse o desdobramento da crise da UERJ.  Afinal, a todos interessa o destino da Universidade do Estado do Rio de Janeiro, que sempre foi um dos orgulhos culturais do nosso Estado.
 
Não me falta autoridade para tocar no assunto.  Lecionei 37 anos na instituição, começando com Ótica Geométrica no seu pré-vestibular, passando por Desenho Geométrico no Colégio de Aplicação Fernando Rodrigues da Silveira, chegando a Administração Escolar (que é a cátedra nº 1 da UERJ, em que brilhou o educador La-Fayette Cortes), antes tendo lecionado Geometria Analítica nos cursos de Matemática, Física e Química), para finalizar no curso de Pedagogia com História e Filosofia da Educação, matéria em que substituí o prof. Joaquim  Faria Goes Sobrinho, quando este se aposentou.

Estive durante 26 anos no Conselho Universitário da UERJ, certamente o professor  que mais tempo lá esteve, vivendo diversas etapas cruciais daquela Universidade.  Deu tempo para acompanhar bem de perto os vários estilos da administração vividos pela UERJ, inclusive os últimos tempos, em que pintou um desrespeito dos mais brabos.  Sempre foi notória a falta de dinheiro, sobretudo no segundo período do ano (de agosto a dezembro).  Aí era preciso recorrer ao Chanceler, O Governador, para que ele liberasse créditos suplementares.  Isso nunca deixou de ser feito – e sempre com êxito.

Eu mesmo fui portador de vários apelos a governadores distintos.  Tendo sido quatro vezes Secretário de Estado, tinha o honroso título de vice-Chanceler – e nessa condição fazia os apelos devidos, com a alegria de ter sido sempre muito bem sucedido.  Menos numa ocasião, quando era governadora a Rosinha Matheus.  Quando surgiu o problema, a instituição estava agitadíssima por movimentos político-partidários, em que a governadora era atingida por cartazes altamente agressivos.

Quando pedi uma audiência para fazer-lhe o apelo pela liberação de recursos suplementares, ela me recebeu, com a simpatia de sempre, mas abriu um baú em seu gabinete para mostrar a sucessão de cartazes, folhetos e flâmulas, em que a honra da governadora era duramente atingida.  

Tudo com a chancela de pequenos partidos, que não respeitam coisa alguma.  A expressão dela, quando acabei de fazer o meu discurso, foi muito simples:

“Diga, professor, se posso ser gentil com um pessoal que me trata dessa forma desrespeitosa?”

Fiquei sem jeito, pois essa mesma gente também me agredia em reuniões do Conselho Universitário, pouco ligando para o meu passado na casa.  O então reitor propôs me conceder o título de Doutor Honoris Causa, o que nada representaria em termos salariais.  Era apenas um título honorífico, mas a proposta foi prontamente rechaçada.  

Quem duvidar dessa história, pergunte ao ex-reitor Antônio Celso Alves Pereira sobre a sua veracidade.  Ele, hoje, é um dos ex-reitores que assina o apelo ao governador Pezão para que socorra a UERJ.  Mas as pessoas da política interna da instituição, infelizmente, são as mesmas, o que é uma pena.