Crônica: A diplomacia dos Livros

Arnaldo Niskier
 Uma das alegrias que a Academia Brasileira de Letras me proporcionou é o convívio com imortais como Marco Lucchesi, hoje também presidente da Biblioteca Nacional. Dele recebi um generoso apelo para que doasse livros à Marinha do Brasil, para distribuição a regiões carentes do país e, sobretudo, para abastecer a biblioteca da Antártida. Não tive dúvida e enviei tudo o que pude. Sei que parte deles seguiu para bibliotecas de países africanos de língua portuguesa. É uma razão de orgulho!
 
A parceria da Biblioteca Nacional com a Marinha do Brasil enviou agora 6.500 livros para 10 países. É o que podemos chamar de “diplomacia do livro”, que merece todo o nosso irrestrito apoio. Isso representa também o que se pode qualificar como cultura de paz, valorizando a posição do Brasil junto a esses países, entre os quais podemos citar Estados Unidos, Alemanha e Cabo Verde. As obras contemplam entidades cadastradas, como bibliotecas, universidades, centros de estudos e embaixadas. Trata-se de uma inteligente permuta, pois vêm livros de volta, enriquecendo o nosso acervo internacional.
 
Só para a Estação Comandante Ferraz, na Antártida, estão sendo enviados 700 livros. A experiência segue o exemplo do que faz a Argentina, que envia periodicamente seus livros para o continente antártico.
 
Obras de Lima Barreto, Darcy Ribeiro, João do Rio, Carolina Maria de Jesus e Aluísio Azevedo compõem esse projeto, que Lucchesi acertadamente chama de “diplomacia dos livros”: “Assim conquistamos almas para o diálogo.”
 
A leitura desses trabalhos, num local que no inverno pode chegar a menos 40 graus centígrados, representa sem dúvida um necessário aquecimento cultural, uma distração de primeira ordem.
 
Temos em andamento um acordo da Biblioteca Nacional com o chamado Sul Global, que envolve mais de 120 instituições pelo mundo que estão sendo contempladas. E agora se prepara para fazer um curso de restauração de obras, o que será naturalmente muito útil a todas essas bibliotecas.