Sala de aula Invertida


Arnaldo Niskier

O futuro reserva um bela inovação para a escola brasileira: a sala de aula invertida. Não mais a configuração de professores e alunos distribuídos como se estivessem num ônibus, mas no sentido inverso. Os alunos se preparam em casa, adquirindo os conhecimentos básicos, com o emprego de ferramentas de alta velocidade plenamente domesticadas (smartphones e tablets), e levando para a escola as suas dúvidas, que serão esclarecidas pelos professores em aulas muito mais dinâmicas e enriquecedoras.
 
Assim, os mestres deixariam de lado o atual estilo unidirecional e ultrapassado e passariam à condição muito mais inteligente de consultores ou orientadores. Isso já está acontecendo em nações desenvolvidas, como é o caso de Finlândia, Austrália e Canadá.
 
O aluno estuda antes de chegar à sala de aula, que ele passa a utilizar principalmente para tirar dúvidas. Essa proposta, de uma ação mais ativa dos discentes, nasceu em 2003 nos Estados Unidos e felizmente já repercutiu em nosso país. O método estimula no espírito dos alunos ações de criação e inovação. O saber enciclopédico deixa de ser prioritário.
 
Mais do que acumular conhecimentos e se dedicar à tarefa de decorar, o aluno irá aprender a aprender, levando em conta que a cada minuto surge no planeta um novo conhecimento importante. Valorizam-se os dados essenciais, desenvolvem-se habilidades requeridas que devemos adotar: tornar as matérias menos estanques, o que permitirá que algumas delas possam ser ensinadas ao mesmo tempo. Exemplo? Geografia, História, Língua Portuguesa, Economia, Demografia e Estudos Sociais podem compor um só pacote de conhecimentos.
 
O aprendizado passa a se basear em “projetos” e os professores planejam as aulas em conjunto e não mais isoladamente. Como se fazia na antiga Grécia, os mestres se utilizavam da Geometria e da Lógica, além de serem fortemente impulsionados pela poesia, levando em conta que a realidade é sempre multidisciplinar. Afinal de contas, Platão não era filósofo e matemático?
 
Sabe-se que o conhecimento é uno e indivisível. Por isso, o pensador inglês Whitehead em “Os objetivos da educação” condenou a compartimentação dos campos do saber. Defendia o trabalho cooperativo. Melhor do que 60 ou 70 temas mal absorvidos é agrupar em 10 ou 12 áreas efetivamente relevantes. Esse é o novo currículo que preconizamos. Os alunos podem desenvolver projetos, deslindar problemas, conhecer games, frequentar laboratórios e bibliotecas e agir em perfeita comunhão. Todas as escolas serão eficientes e capazes, num processo democrático de equalização.
 
Não precisamos de escolas luxuosas, mas de bons professores, bem pagos, com 100% de mestrado para lecionar no ensino médio. É aconselhável nas escolas uma carga horária mínima de 900 horas por ano. São os pré-requisitos para a educação de qualidade de que andamos tão necessitados.