As primeiras ideias
Arnaldo Niskier
Aproveito uma viagem a Vassouras (Fazenda São Luís da Boa Sorte) para realizar uma boa meditação sobre o destino da educação brasileira.
Acompanho com natural curiosidade as primeiras palavras do novo Ministro da Educação, ex-governador do Ceará Camilo Santana, de 54 anos de idade e pertencente aos quadros do PT.
Sua gestão (entre 2015 e 2022) começou por valorizar todo o processo estadual de alfabetização, e nisso se destacou. Colocou 77 cidades do Ceará entre as 100 melhores do país, segundo o Índice de Desenvolvimento Nacional de Educação Básica (Ideb). Houve continuidade no trabalho e uma forma inteligente de atuação, a partir da cidade de Sobral, quando se registrou uma destacada performance da professora Izolda Cela, hoje convocada para prestar serviços ao MEC. Foram demitidos diretores por indicação meramente política, criadas boas rotinas pedagógicas em salas de aula e notoriamente houve a valorização do magistério, além de assegurar verbas expressivas às prefeituras do Estado. Tudo somado e mais a adoção do necessário tempo integral (sete horas de aulas diárias) deu como conseqüência um salto na qualidade da educação, o que também aconteceu em Pernambuco.
O que se sabe é que quando não se alfabetiza na idade certa há uma quebra na qualidade da educação, de difícil recuperação ao longo do processo. E há um natural enriquecimento quando se adota o indispensável tempo integral, hoje circunscrito a apenas 9% do total de escolas médias, quando o ideal é que já estivéssemos com 40%.
Não se pode culpar apenas a covid por esse desastre. O governo federal também tem culpa, quando deixa de fornecer os recursos necessários, como aconteceu recentemente com 200 mil estudantes de mestrado, doutorado, pós-doutorado e residência, antes contempladas com bolsas da Capes e que sofreram um lamentável processo de descontinuidade. Não se faz uma adequada política de recursos humanos dessa forma sincopada e absurda. “Não se pode trabalhar pelo futuro da educação com o triste congelamento dos recursos destinados a rubricas essenciais.” Esse é um lugar comum do qual não podemos nos dissociar.