Gostar de ler, uma necessidade
Arnaldo Niskier
Estamos distantes de níveis sequer razoáveis na educação brasileira. Os censos escolares são o retrato lamentável dessa realidade. Enquanto se discute se o ensino superior deve ou não ser gratuito, revelam-se dados lastimáveis nas etapas anteriores. Cerca de 54% dos alunos hoje matriculados não sabem ler corretamente.
Um grande programa que se impõe é a orientação da leitura, para ensinar os alunos o gosto de ler. A realidade é que os alunos do ensino elementar chegam à terceira série sem reconhecer os personagens de uma história, sem contar as carências em matemática. Cerca de 27% do alunado não conhecem os conteúdos básicos da ciência do raciocínio. Como entender o acesso à internet ou à robótica com essa triste carência?
Há uma pequena reação favorável à formulação do hábito de leitura, mas é muito pouco distante do vulto do desafio. Precisamos ler muito mais, editar mais livros, valorizar os nossos autores e professores. Em vez de fechar livrarias, como tem acontecido, abri-las de forma generosa. Não se vê o governo empenhado nesse processo, do qual se ouve falar muito pouco.
Querem um exemplo de medida inteligente? A Academia Brasileira de Letras, pelo seu presidente Merval Pereira, fez um acordo com a Livraria Travessa/Leblon para vender obras dos imortais de todos os tempos (isso inclui Machado de Assis e passa por Jorge Amado e Josué Montello, além dos mais recentes). A um preço beneficiado, os leitores encontrarão livros fundamentais à sua disposição, e num local privilegiado. Por que isso não se estende a outros bairros e estados diversos? As vésperas de uma mudança governamental, estudos são ativados para que cheguemos a novos tempos com melhores perspectivas. A educação passa a ser uma pauta obrigatória. Pena só que nem sempre os planos sejam colocados em prática. Há muita demagogia nas promessas de campanha, mas certamente o povo saberá separar o joio do trigo.
Não se pode deixar de destacar o item dos recursos para a educação como rigorosamente prioritário. Sem isso, as promessas se desvanecem, e o país não merece que percamos esse tempo precioso.