A Marcha da vida
Arnaldo Niskier
No Sesc/SP realizou-se o Colóquio Internacional Tolerância e Direitos Humanos, uma iniciativa da escritora Anita Novinsky, que criou na USP o bem sucedido Laboratório de Estudos sobre a Intolerância. Falar sobre Diversidade e Paz, nesse contexto, é excelente oportunidade para abordar questões que jamais devem ser esquecidas, como é o caso do Holocausto que vitimou 6 milhões de judeus na II Guerra Mundial.
Jovens de 15-16 anos das Escolas A. Liessin e Eliezer Max, do Rio de Janeiro, visitaram agora as instalações preservadas do campo de concentração de Auschwitz, na Polônia. Realizaram o que os seus mestres batizaram de “Marcha da Vida”. A descrição da bestialidade nazista uniu todos os alunos numa só e grande comoção. Ali o mundo conheceu, há não muitos anos, o ponto máximo do desrespeito aos direitos humanos.
A frase é de Albert Einstein, o genial criador da teoria da relatividade, quando recebia homenagem em Chicago, em 1954, um ano antes de falecer: “Os direitos humanos não estão escritos nas estrelas, cabe aos homens construí-los”.Estamos mais convencidos do que nunca da propriedade dessa assertiva.
Sabendo-se de que o judaísmo tem como meta final a visão de um mundo que repousa sobre três fundamentos: a Verdade, a Justiça e a Paz, podemos recorrer ao profeta Isaías quando destacou, na Bíblia, a recomendação do Eterno: “Guardai o Direito e praticai a Justiça.”
Esses mandamentos, hoje, são mais atuais do que nunca. Quando se duvida da expressão numérica do Holocausto, como fez insistentemente o bispo inglês Richard Williamson, “para quem os judeus reclamam de mais, pois foram só 600 mil mortos nos campos de concentração, e ainda assim sem câmaras de gás” o mundo parece viver uma euforia ultraconservadora, que contradiz a afirmação do saudoso papa João Paulo II: “Devemos prestar mais atenção no que dizem os nossos irmãos mais velhos, os judeus.”
Não se trata de um flagrante e lamentável erro histórico? Desconhecer o que aconteceu em Aushwitz, Birkenau, Maidanek, Treblinka, Krazmik, com testemunhas que ainda vivem, para confirmar o horror da bestialidade nazista, é um exercício que parece algo inacreditável. Quando nossos jovens, como aconteceu com minhas netas, realizam a “Marcha da vida”, percorrendo os caminhos dessa tragédia humana, voltam do museu de Aushwitz com informações, fotos e testemunhos que se fincam para sempre em suas memórias. O bispo Williamson, recentemente expulso da Argentina, não soube de nada disso. Ou não quis tomar conhecimento, que é o mais provável.
São aspectos ligados aos direitos humanos, sobretudo à vida, que não podemos e nem devemos desprezar. Os inimigos não foram destruídos, como comprova a lamentável existência, na Europa e na América, dos execráveis skinheads, subproduto desumano de uma sociedade sem rumo. Ainda se questiona a verdadeira estatura do homem e suas complexas relações com o conceito de liberdade. O judaísmo condena veementemente o sacrifício humano, a qualquer pretexto, desde as posturas bíblicas do Gênesis. Como tentar reduzir, pois, o significado do frio assassinato de 6 milhões de judeus, vítimas inocentes de um delírio racista e tolerado por boa parte da humanidade? Hoje, a resposta a qualquer desvio será sempre imediata e à altura, como devemos reconhecer que é feito pelo Estado de Israel.