Overdose de tecnologia
										    Arnaldo Niskier
											
										     
								
	 
	Ninguém pode ser contra o acesso das nossas escolas
	públicas às incríveis ferramentas da sociedade do conhecimento. Elas, bem
	manuseadas, podem ser extremamente úteis ao aperfeiçoamento da qualidade da
	educação. O que se discute, hoje em dia, é o seu correto emprego. Por exemplo,
	o uso excessivo do computador para a distração com os games de todos os tipos,
	inclusive os que se devotam obstinadamente à violência. Junta-se a isso o excesso de
	horas passadas diante da telinha – e aí se tem uma fórmula deletéria.
	 
	Ao passar pela segunda vez no comando da Secretaria
	Estadual de Educação do Rio de Janeiro, dei andamento ao projeto de criação de
	laboratórios de informática. Lembro da inauguração simbólica desse aperfeiçoamento
	no Colégio Estadual Heitor Lyra, na Penha. Foi um deslumbramento para alunos
	e professores. Daí ao exagero, no entanto, vai uma distância a ser devidamente
	considerada.
	 
	O que se considera exagero? Com verbas limitadas, sem poder
	pagar adequadamente aos professores e especialistas, como generalizar a compra
	desses utilitários? É uma questão de prioridade, o que não tem sido levado em conta,
	de maneira geral.
	 
	Veja-se, agora, o caso do Governo de São Paulo. Separou
	recursos da ordem de 5,5 bilhões de reais para universalizar a informatização das salas
	de aula na rede estadual, estimando que isso se faça no prazo de 10 anos. Viriam
	lousas digitais, conectadas à internet, e material eletrônico para cada aluno, como
	tablets e notebooks. Isso tudo ocuparia 40% do tempo dos alunos nas escolas. Não
	existe até hoje uma avaliação séria sobre os resultados de tal procedimento, mesmo
	nos países desenvolvidos.
	 
	Se os professores não estiverem devidamente preparados,
	dominando completamente todos esses instrumentos, vai ser uma farra eletrônica
	sem a garantia mínima de retorno em termos de qualidade. Não se fala no
	treinamento dos professores e nem se sabe se eles foram consultados sobre essa
	prioridade, que pode muito mais estar na cabeça dos burocratas de gabinete do que
	propriamente na vontade daqueles diretamente envolvidos no processo.
	 
	Quando existe uma vontade política, o dinheiro aparece. É o
	caso desses 5,5 bilhões de reais previstos para a compra de equipamentos eletrônicos.
	Se não houvesse essa fúria inovadora, bem que se poderia aplicar esses recursos na
	melhoria salarial dos professores da rede pública. Daria para pagar mais 5 mil reais
	a 90 mil deles, todo mês, durante um ano, alcançando os níveis que são comuns nos
	tigres asiáticos. Com uma vantagem adicional: melhorando as condições de vida
	desses profissionais, eles teriam mais recursos para aplicar no comércio e na indústria
	 
	locais, tornando-se belos consumidores dos nossos produtos. A nova classe média,
	que emerge das ações governamentais recentes, ganharia um enorme reforço – e num
	setor profundamente estratégico, como é a educação.