Vive la France


Arnaldo Niskier

Para participar do Salão do Livro de Paris e de uma série de eventos de intercâmbio cultural com a Academia Francesa, deslocaram-se para a capital da luz nada menos de nove membros da Casa de Machado de Assis, num esforço inédito. O fato se revestiu de grande importância por se tratar de uma estratégica retomada de contato, em nível superior, entre os dois pilares da cultura latina.
 
A ABL não compareceu a esse encontro de mãos abanando. Produto maior da sua eficiente Comissão de Publicações, levou três antologias bilíngues (português-francês), contemplando trabalhos dos seus imortais em três áreas: ensaio, poesia e ficção. Foram muito apreciados pelos seus colegas franceses, como revelou o decano Jean d’Ormesson ao acadêmico Antônio Torres, depois de uma longa conversa.
 
O mesmo foi dito pela russóloga Hélène d’Encausse, hoje secretária perpétua da A.F., que substituiu no posto a figura lendária e muito amiga do escritor Maurice Druon, consagrado autor do clássico “O menino do dedo verde”. Foi em sua gestão, na década de 90, que as relações França-Brasil estiveram muito aquecidas, no campo literário, com a entrega do Prêmio da Latinidade ao escritor mexicano Carlos Fuentes e a criação da Academia da Latinidade, de sólidas pretensões de intercâmbio.
 
Hoje, depois das conferências em francês dos acadêmicos Geraldo Holanda Cavalcanti, Domício Proença Filho, Marco Lucchesi e Sérgio Rouanet sobre as virtudes dessa congraçamento, os confrades franceses entenderam que era o momento de reabrir em grande estilo essa relações adormecidas – e que ganharão um tônus vivificador com a visita da secretária perpétua ao país de Machado de Assis, autor pelo qual eles nutrem o maior respeito.
 
Deve-se destacar que esse saudável movimento abrange também as relações com a Sorbonne, em grande parte pelas ações desenvolvidas pela professora Cláudia Poncioni, que para lá levou, em épocas distintas, escritores do porte de Ana Maria Machado, João Ubaldo Ribeiro, Nélida Piñon, Rosiska Darcy de Oliveira (falou sobre Clarice Lispector), Antonio Torres e nos encomendou uma conferência já realizada 
sobre a inesquecível Rachel de Queiroz, com debates que reuniram mais de 100 interessados, mobilizados pela competência de Didier Lamaison.
 
Esse movimento de valorização da latinidade, como não poderia deixar de ser, tinha que abranger igualmente o mundo lusófono e particularmente a tradicionalíssima Academia das Ciências de Lisboa. No mesmo impulso que levou os imortais brasileiros a Paris, alguns deles deslocaram-se para a capital portuguesa. Domício Proença Filho, por exemplo, esteve com Adriano Moreira, presidente da ACL, com quem trocou preciosas informações.
 
Foi acordado que se vai retornar ao necessário intercâmbio de visitas de imortais, além da edição sucessiva de obras fundamentais da rica literatura de cada um dos países, aqui se incluindo o que se passa de expressivo também nas nações africanas, que têm notáveis escritores como Mia Couto e José Agualusa, que merecem ser mais conhecidos no Brasil. E a recíproca é verdadeira, pois se assinala uma clara redução na circulação das obras nossos escritores nas oito nações que compõem a CPLP. São boas 
perspectivas.