Pelos campos do Rio


Arnaldo Niskier

Na década de 50, quando estava com 16/17 anos de idade, tive uma vontade insopitável de me dedicar ao futebol. Jogava no Colégio Vera Cruz, na rua Hadock Lobo, e era considerado um “cobra”. Ao lado de outra fera, que era o meu colega de turma Zé Pedro, fizemos uma manobra e fomos treinar no Vasco da Gama. O pai do Zé Pedro conhecia um diretor do Vasco, na época treinado pelo Oto Glória e, graças a isso, conseguimos o privilégio de treinar em São Januário, no mesmo gramado de tão gloriosas tradições. Recebi a camisa de médio esquerdo, com a incumbência de marcar o ponteiro argentino Salvini, que estava contratado pelo Vasco. Atuei um tempo inteiro e acho que me saí bem, pois o treinador mandou voltar na semana seguinte, o que acabei não fazendo, por motivos desconhecidos.

Depois, com a chuteira debaixo do braço e sempre na companhia do Zé Pedro, fui até o estádio de Álvaro Chaves, para treinar no Fluminense. Não saí da arquibancada. Achei que tinha gente demais e não valeria a pena sequer treinar. Fui também a General Severiano, atuando de zagueiro no Botafogo. O treino terminou ao anoitecer, sem a luz de refletores. O treinador mandou voltar no treino seguinte, o que não aconteceu. Eu não queria jogar muito de zagueiro, em virtude da minha altura.

Cheguei a pisar no gramado de Bangu (num amistoso) e aconteceu o mesmo no campo do Flamengo, na Gávea, num jogo amistoso entre jornalistas (eu já defendia as cores da Manchete). Nessas condições atuei duas vezes no Maracanã (jogos de radialistas x jornalistas) e ainda joguei uma vez naquele estádio defendendo as cores da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras da então Universidade do Distrito Federal. Foi quando experimentei a sensação de fazer um gol naquele que era o maior estádio do mundo.

Mas como o meu coração estava com o América F. C., foi no seu infantojuvenil que atuei mais vezes, alternando a posição de médio esquerdo com a de meia esquerda e ponteiro esquerdo. Na época existia o América Jr. e eu jogava por ele, sob a orientação do seu Freitas, depois técnico no juvenil. Quando houve uma debandada do time do AFC (saíram Jorge, Toninho, Manfredo, Severino, Mariozi e Zagallo), todos foram para o Flamengo, menos o Severino, que foi para o São Cristóvão, e o Jorge goleiro que foi para a Portuguesa. O jeito dado pelo treinador foi promover o infantojuvenil e nessa subida passei a treinar na ponta esquerda, no lugar antes ocupado pelo Zagallo, o que foi naturalmente uma honra.

Mas aí tive que fazer uma dura opção. O diretor da Manchete Esportiva, onde eu trabalhava, me chamou e deu um ultimato: ou você quer ser jogador (os treinos eram à tarde) ou jornalista. Tive que optar pelo meu emprego, aliás, muito bem remunerado. Passei a praticar esportes noturnos, como natação, futebol de salão e basquetebol, o que fazia com grande regularidade. Acabei campeão carioca da 2ª divisão de basquete, atuando pelo Clube Municipal. Era capitão do time. Aí casei e deixei de praticar esporte com regularidade.