Uma crise sem fim


Arnaldo Niskier

Nos países desenvolvidos fala-se hoje em Quarta Revolução Industrial (4.0). São novas tecnologias que integrarão os domínios físicos, digitais e biológicos, o que naturalmente irá modificar o panorama das escolas em todos os graus. O que vai acontecer na escola de 2019 só Deus sabe...


Conversei com a minha neta Paula Flanzer, que acaba de regressar de uma temporada de seis meses de estudos na Austrália. Voltou empolgada e fez um registro: lá eles se preocupam com a internet das coisas, bigdata, hologramas, impressão 3D etc. Mas dão também um extraordinário valor à remuneração dos professores. Aqui algumas escolas de vanguarda mandam comprar esses equipamentos, mas em geral descuram do pagamento dos mestres, o que naturalmente é essencial para que eles trabalhem em paz e com entusiasmo.


O resultado dessa política equivocada é que estamos vivendo uma crise sem fim na educação. Não apenas no ensino fundamental, onde conseguimos o milagre da universalização, mas pecamos na qualidade do ensino, e também nos demais graus, como acontece de forma escandalosa no ensino médio. A prova disso é que, nos exames internacionais do Pisa, ficamos nos últimos lugares, inclusive na matemática, onde o Brasil tem condições de se ombrear com as nações mais desenvolvidas do mundo. Por que tudo isso?


Temos dois milhões de jovens dos 15 aos 17 anos compondo a trágica geração “nem-nem” (nem estudam, nem trabalham). Será que a esperada reforma do ensino médio corrigirá essa vergonha? Fica evidente que não dispomos de um projeto vigoroso de aperfeiçoamento da formação do magistério. Sem bons professores não se vai chegar a lugar nenhum – e isso depende de salários compatíveis. Não sentimos nenhum movimento adequado de correção de rumos.


A reforma do ensino médio foi aprovada no ano passado no Congresso Nacional. E a Base Curricular Nacional do Ensino Médio parece ter empacado no Conselho Nacional de Educação. Tudo é difícil quando se trata de dar agilidade às providências necessárias.


Enquanto declina a oferta de tempo integral em nossas escolas, também não se sente um movimento revolucionário para corrigir a reconhecida falta de laboratórios de ciências. Cerca de 55% das escolas não dispõem desse recurso, o que mostra o relevo dessa carência.


Temos 40 mil escolas públicas no Brasil, com as deficiências conhecidas. Cerca de 20% não dispõem de internet banda larga e, segundo o Censo Escolar 2017, 10% não têm abastecimento regular de água. Como sobreviver dessa forma? Pode-se pensar nas consequências negativas desse fato.


É claro que tentar equacionar a educação profissional diante desse panorama é quase um exercício improvável, num sistema com tamanhas carências.