Tive o prazer imenso de conviver, no jornalismo, com o compositor Ronaldo Bôscoli, inspirado autor da bossa nova. O “Lobo Bobo” foi de sua autoria, além de inúmeras outras canções que marcaram época.
O nosso conhecimento aconteceu na redação da Última Hora” (seção de esportes), fazendo parte da equipe de Augusto Rodrigues. Depois, fomos juntos para a “Manchete Esportiva”, onde os nossos laços de amizade se estreitaram.
Ele morava no Leme (Rua Oaviano Hudson), numa “república” onde ainda cabiam o também compositor Francisco Feitosa (Chico Fim de Noite) e o professor João Carlos Cantuária, meu mestre de geografia no Colégio Vera Cuz. Este era uma figura especial. Costumava parar diante do espelho e soltar a frase que ficou famosa: “Vai ser bonito e forte assim no inferno!”
Bôscoli era neurótico. Não podia andar sozinho. Numa tarde, quando deixava a redação da rua Frei Caneca nº 511, ele estava parado na porta e me pediu carona. Mas eu tinha que passar antes numa joalheria, na rua de Sant’Anna, para comprar as alianças do meu noivado com a Ruth. Ele se ofereceu para me ajudar a escolher as jóias. Acabou sendo uma espécie de padrinho da cerimônia – e isso nos aproximou mais ainda.
Aí começou o movimento vitorioso da “bossa nova”. Fez a música com Roberto Menescal e namorou a cantora Maísa e a jovem Nara Leão, com a sua voz personalíssima. Encontramo-nos em algumas festas e ele passou a colaborar com belas matérias na revista Manchete”, da qual fui chefe de reportagem, a partir de janeiro de 1960.
Mais tarde, casou com Elis Regina. Tiveram um filho (João Marcelo), mas se separaram, devido aos temperamentos explosivos. Um dia, muito tempo depois, ele me telefonou, pedindo ajuda. Ela não deixava que ele visse o filho. Sabia que o advogado de Elis era meu amigo (Paulo Fabião) e fez o apelo apara que eu intercedesse. Foi o que fiz, com muito sucesso.
Ronaldo Bôscoli era mesmo um poeta. Sua irmã Lila foi casada com Vinicíus de Moraes. Será que isso influenciou sua carreira?