O castigo dos tributos
Arnaldo Niskier
Não é fácil encontrar o caminho para resolver os grandes problemas da educação brasileira. Os diagnósticos se sucedem. Muitos deles são inexequíveis e outros pecam por desobedecerem, notoriamente, as nossas perspectivas socioculturais. São mais devaneios de sonhadores incorrigíveis.
No caso de Ozires Silva, trata-se de um empresário muito bem sucedido, sempre com os pés no chão. Assim criou a Embraer, deu outra vida à região de São José dos Campos, presidiu a Petrobras, foi Ministro de Estado e hoje dirige a Unimonte, além de ter participação ativa no Conselho do CIEE/SP. Um homem dinâmico, que se recusa a aceitar as limitações da idade.
Tive com ele muitas conversas, todas proveitosas. O seu pensamento criativo pode ser medido pela entrevista que concedeu à revista Agitação, do CIEE/SP, em que oferece diversas alternativas às questões educacionais. Sugere uma verdadeira cruzada para salvar o setor que ele mesmo considera o mais importante do País, a começar por uma nova lei (já temos tantas e muitas inócuas) que autorize a ampliação dos investimentos privados em educação e a formação de pessoas gabaritadas para enfrentar o vulto dos nossos desafios.
Outra proposta encaminhada ao ministro Fernando Haddad: a retirada de tributos das escolas. O Brasil é um dos maiores países do mundo em que a cobrança tributária (cerca de 38%) se faz de modo absurdo. Além disso, Ozires, com a sua vasta experiência, propôs o estímulo a doações para instituições educacionais e a criação de um plano estratégico, abrangente e de longo prazo, para nortear os investimentos e definir linhas inovadoras capazes de absorver grandes contingentes de jovens que entrarão no mercado de trabalho.
Se as idéias são utópicas ou não, cabe ao Governo discutir. Ozires revelou a sua preocupação: “Fico pensando que há milhões de brasileiros muito inteligentes, com potencial enorme, que morrem antes de fazer qualquer coisa.” Dá como exemplo de adequado estímulo à educação o que ocorre nos países anglo-saxões, como Inglaterra, Austrália, Nova Zelândia e Estados Unidos (apesar da enorme crise econômica). “O americano médio está muito mais instrumentado para enfrentar a competição da vida do que o brasileiro médio. Não parece existir vontade política para modificar esse quadro.”
Ozires Silva comenta a nossa clássica pirâmide invertida: as escolas públicas atendem a aproximadamente 95% dos cursos fundamental e médio. No ensino superior, a situação se inverte: quase 80% das vagas são oferecidas pelas universidades privadas. Num primeiro momento não se paga, depois se paga tudo, inclusive os impostos.
“É injusto”, diz ele. Vê com simpatia a vinda de grupos internacionais para investir no Brasil: “Podem me chamar de ingênuo, mas isso vai oxigenar o nosso sistema.” Por fim, elogiou a existência dos estágios: “A missão do benemérito CIEE é extremamente válida e deve ser sempre prestigiada.”