Mau exemplo


Arnaldo Niskier

Um show de preconceito seria ruim em qualquer época. Em tempos de Olimpíada, pior ainda. E com um sinal profundamente negativo: os seus autores, na sua maioria, são jovens, já envenenados por esse espírito deletério, que não condiz com a natureza do povo brasileiro.
 
A cantora Preta Gil fez bem ao protestar contra as agressões raciais sofridas via internet. Se fingir que não é com ela, a tendência é piorar, como está acontecendo com as manifestações de bullying nas escolas públicas do Rio de Janeiro! Isso é uma praga que deve ser energicamente combatida.
 
Mensagens preconceituosas via internet, não são, nem nunca foram, demonstração de humor. É uma prova de profundo desrespeito. Com que direito se entra numa página do Facebook e agride uma pessoa, artista, chamando de “macaca” ou sugerindo “que volte para a senzala”? Todas as mensagens tinham a mesma assinatura, como se pertencessem a um só grupo de insanos.
 
Infelizmente, tais ocorrências estão se tornando comuns. Tivemos exemplos recentes de desrespeito à atriz Taís Araújo (parece que foram os mesmos responsáveis) e à apresentadora Maju Coutinho (do Tempo). Igual violência sofreu a também atriz Sheron Menezzes. Por que esses ataques de ódio?
Pergunta-se: é para isso que se desenvolveram tanto as redes sociais?
 
Muitos negros sofrem diariamente a mesma dor de serem atacados pura e simplesmente por causa da cor da pele, pelo tipo de cabelo, pelo formato do nariz. A única diferença é que, por não serem conhecidos, ninguém fica sabendo. Mas há também preconceitos de religião, igualmente condenáveis.
Está na hora de colocar a escola pública (estadual ou municipal) no seu devido papel. Não cabe aos professores reagir de forma desarrazoada, como aconteceu numa escola da Ilha do Governador, em que professor e aluno acabaram se agredindo mutuamente, numa aula de Geografia. Cabe ao mestre a missão de orientar os seus discípulos, às vezes ser conselheiro, para evitar a ocorrência de tais exageros.
 
Na verdade, está em jogo o princípio bíblico do “amai-vos uns aos outros”. Esse respeito é básico. Não pode existir justificativa para esse tipo de transgressão, já agora utilizando recursos tecnológicos modernos, representados pelas poderosas redes sociais.
 
Oriundo de um curso de Pedagogia, na Universidade do Estado do Rio de Janeiro, não posso deixar de me sensibilizar com a ideia de reformular vigorosamente a formação de professores, o que, aliás, é uma preocupação hoje generalizada no mundo. Todos os grandes centros universitários focalizam a necessidade de formar bons professores, como demonstrou a revista britânica The Economist, de 11 do mês de junho.
 
Ofensas pela internet, como está se tornando frequente, positivamente, não é o melhor caminho para se adotar. Nas Universidades é preciso passar o conhecimento científico, mas o destaque deve ser para a ministração de valores, no que andamos falhando muito.