Quem ensina sempre aprende


Arnaldo Niskier

 A frase tanto pode ser  atribuída a Anísio Teixeira quanto a Guimarães Rosa.  Ambos, em tempos distintos, afirmaram que quem ensina sempre aprende. É uma realidade indiscutível.
 
Com  a experiência de mais de 55 anos de magistério, posso afiançar que o ato de lecionar, de forma consciente, obriga o professor a uma preparação prévia e contínua. Deve  estar atualizado, inclusive para enfrentar com sucesso as  demandas em classe  dos  seus alunos, hoje às voltas com as  múltiplas  informações  da  televisão e dos computadores.
 
O tema foi objeto de um Seminário para 400 professores e gestores da rede privada, no Hotel Othon do Rio de Janeiro, promovido pelo Sistema Ético de Ensino da Editora Saraiva. O encontro de educadores foi balizado pela frase “Venha ensinar, aprender e compartilhar  saberes”, objetivo plenamente alcançado pelo evento.
 
 Na fala inaugural, com muita propriedade, dada a sua longa experiência, o professor José Arnaldo Favaretto, especialista em Biologia, confessando-se “apaixonado pela educação”, fundador do Sistema Ético, em 2005, defendeu a existência de uma escola
mais completa e inclusiva. Citou diversos autores brasileiros, demonstrando o seu grande apreço pela leitura, mas revelou  a   grande dificuldade com que se deparam os mestres: eles devem ensinar hoje o que não aprenderam na escola. O  conhecimento   dobra  a cada cinco anos e, parafraseando  Guimarães Rosa, “hoje já é amanhã”.
 
Se o professor não tiver uma atualização permanente (e haja tempo para isso), perderá a batalha da  eficiência. Haverá alunos com conhecimentos mais avançados – e isso provoca uma situação incômoda em sala de aula.  Vivemos um mundo de imersão digital, querendo ou não, como disse o  professor  Favaretto, com as suas características de portabilidade, interatividade, conectividade e multifuncionalidade. Quem não estiver preparado para isso, terá dificuldades  talvez insuperáveis para exercer com brilho  a sua missão.
 
Veio à tona o comentário sobre os avanços palpáveis da tecnologia. O orador tomou emprestado um exemplo do escritor Carlos  Heitor Cony, para reforço da sua argumentação: “Tecnologia é como o automóvel: torna o caminhar mais fácil, mas não aponta o caminho.” Aí é que entra o papel do professor e a sua responsabilidade. Ele não pode ser culpado se a escola fracassa em sua missão de  educar, como querem alguns.
 
Nem o problema é tão simples que se resolva com maiores salários. Pagar mais é uma velha reivindicação, justa, mas a importância está também na melhoria da formação dos mestres. Não cabe a discussão do que deve vir primeiro. Talvez haja uma concomitância nessas duas vertentes, reconhecido que uma boa  parte dos professores frequenta  cursos deficientes, retrógrados, com conhecimentos envelhecidos e repetitivos. Nutrimos grandes esperanças na renovação dos cursos de formação de professores.