Crônica: Um triste retrato do Brasil

Arnaldo Niskier
O Brasil tem o segundo maior nível de desigualdade de renda entre os 46 países que  fizeram parte do estudo “Um Olhar sobre a Educação”, realizado pela Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE): ficamos atrás apenas da Costa Rica. Também temos um número relativamente baixo de alunos com mais de 14 anos de idade inscritos em instituições de ensino no Brasil: estão matriculados 69% dos jovens entre 15 e 19 anos, e 29%, entre 20 e 24 anos. As médias nos países da organização são, respectivamente, de 85% e 42%. Observem que a diferença é gritante.
 
Em relação ao ensino superior, o relatório da OCDE aponta que o Brasil enfrenta as chamadas “desigualdades regionais significativas". Vejamos: enquanto no Distrito Federal 33% dos jovens adultos chegam à universidade, no Maranhão, o estado com o menor PIB per capita, o número é de apenas 8%. É preciso diminuir essa disparidade regional entre alunos que conseguem atingir o ensino superior no Brasil, e assegurar que as pessoas tenham oportunidade de atingir níveis adequados de educação. 
 
Segundo o estudo da OCDE, os gastos por aluno, sobretudo no ensino básico, são considerados muito baixos. Mesmo assim, levando-se em conta os dados de 2015, o Brasil destinava cerca de 5% do PIB à rubrica educacional, índice considerado acima da média de 4,5% do PIB dos países da OCDE. O Brasil investe, porém, cerca de US$ 3,8 mil por estudante no ensino fundamental e médio, menos da metade dos países da OCDE. Já a despesa com os estudantes de instituições públicas de ensino superior é quatro vezes maior, US$ 14,3 mil, pouco abaixo da média da OCDE, que é de US$ 15,7 mil. 
 
Pensa-se pouco no conteúdo da educação, sendo comum jovens chegarem ao diploma salvador sem os mínimos conhecimentos básicos, especialmente em História, Literatura, Matemática e Ciências. Sem falar na tragédia que representa o desconforto com que é tratada a Língua Portuguesa. Temos hoje 76,9 milhões de alunos frequentando as escolas brasileiras, em todos os níveis, como informa o Censo Escolar do Ministério da Educação referente a 2017, um número expressivo. São 48,6 milhões no ensino básico, 8,3 milhões no ensino superior, 8,5 milhões no ensino infantil, 7,9 milhões no ensino médio e 3,6 milhões no ensino de jovens e adultos.
Melhorar a educação brasileira, de um modo geral, pode ser uma utopia? Depende, naturalmente, da existência de uma política séria, no setor, conduzida por pessoas competentes e desinteressadas de proveito pessoal ou político. Esperamos que os novos tempos que se anunciam deem finalmente a devida prioridade ao setor. De uma coisa temos certeza: precisamos aumentar os investimentos na educação. Estamos na torcida para que o novo ministro da Educação, Ricardo Vélez-Rodríguez, de quem sou amigo e parceiro nas reuniões técnicas da CNC (Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo), reúna uma boa equipe de educadores e especialistas, tenha uma boa gestão e consiga bons resultados.