Di e a semana de arte moderna
Arnaldo Niskier
Tive o privilégio de gozar da amizade do grande pintor Di Cavalcanti. Viveu grande parte da sua vida no Rio de Janeiro, onde o conheci na redação da “Ultima Hora”. Convidado por Samuel Wainer, ele foi autor de um belíssimo painel que ornamentou as instalações do jornal, especialmente onde ficava a seção esportiva, comandada pelo jornalista Augusto Falcão Rodrigues, irmão de Nelson Rodrigues.
Homem ligadíssimo à cultura, Di foi convidado e aceitou fazer parte do Governo João Goulart, como adido cultural em Paris. Infelizmente, com a destituição do presidente, em 1964, Di ficou desempregado, na capital francesa, onde o encontrei em companhia da então esposa, a querida Ivete, que foi minha colega na natação do América F.C. Dessa amizade nasceu um almoço, no restaurante “Le Fruit Défendue” (O fruto proibido), à beira do Sena, e um papo gostoso de que participou também o casal Norma e Murilo Melo Filho. Dali fomos visitar o seu estúdio. Acabamos comprando quadros valiosíssimos (um para cada casal).
E Di não mais nos esqueceu. Às vésperas do Natal enviou-me um lindo quadro, com a seguinte dedicatória: “Ao jovem mestre, com o abraço do velho mestre. Di Cavalcanti.” Passei a visitá-lo sempre no apartamento da rua do Catete, onde ele tinha um prazer imenso de mostrar suas obras em construção. E onde recordava as suas ações culturais, como a participação na Semana de Arte Moderna de 1922.
Emiliano Di Cavalcanti nasceu no Rio, em 1897, e faleceu na mesma cidade, em 1976. Participou ativamente dos movimentos relativos à Semana de Arte Moderna, em 1922. Como pintor, desenhista, ilustrador e caricaturista foi um dos maiores artistas brasileiros, pela representação competente de temas populares como o carnaval, mulatas, samba e favelas. Recebeu influências de Picasso, Braque e Matisse. Reconheceu a necessidade de pintar temas que refletissem os valores da estrutura social brasileira. Suas clássicas “mulatas” eram uma espécie de réplica das “mulheres” de Picasso. Desde 1916 publicou charges políticas na revista Fon-Fon. Tornou-se um clássico da nossa pintura.