JK volta a Brasilia
Arnaldo Niskier
Ao falar para alunos e professores do CEUB, em Brasília, a propósito do lançamento do livro “Memórias de um sobrevivente” (Editora Nova Fronteira), a convite do professor Edevaldo Alves da Silva, o primeiro fato que me chamou a atenção foi o grande interesse da enorme plateia por particularidades da vida de JK. Temos a triste fama de ligar pouco para as questões da memória nacional, mas o que se sente é exatamente o contrário. Após a palestra, a maior parte das perguntas envolveu o passado do construtor de Brasília, ao lado de figuras do porte de Israel Pinheiro, Lúcio Costa e Oscar Niemeyer.
Um aluno de Comunicação perguntou se o uso do avião, para o transporte de materiais e equipamentos, não havia encarecido “brutalmente” o custo das obras. Era a época do valente DC-3, utilizado também por JK para os seus constantes deslocamentos. Situada no Planalto Central, que seria redescoberto, a região não era servida por boas estradas, que foram sendo construídas aos poucos. Nem havia linha térrea. Para garantir os prazos estabelecidos pela Novacap, o jeito foi mesmo recorrer muitas vezes ao avião. É claro que era uma opção cara, mas necessária.
Outra pergunta, desta feita de um professor, foi sobre a origem do Memorial JK. “De quem foi a ideia?” É difícil precisar o autor da iniciativa. Nela envolveram-se entusiasticamente D. Sara Kubitschek, Adolpho Bloch e o coronel Afonso Heliodoro dos Santos, viabilizando o lindo prédio de Oscar Niemeyer, onde hoje repousam os restos mortais do ex-presidente. O local é muito visitado, garantiu-me o jornalista Silvestre Gorgulho, ex-secretário de Cultura do Distrito Federal.
Outro espanto dos jovens foi sobre a afirmação de que JK, injustamente levado ao exílio, não tinha condições financeiras de se manter no exterior. Foi socorrido por amigos, como Adolpho Bloch, responsável por algumas remessas a Paris e Nova Iorque, como pude testemunhar. Isso desmente a caluniosa informação de que JK era a sétima fortuna do mundo.
Na palestra, compareceu a jornalista Dad Squarisi. Ela comentou sobre a generosidade de Adolpho Bloch: “Ele cedeu quase um andar da bonita sede do Russell para que Juscelino lá tivesse o seu escritório e pudesse receber os seus amigos”. Funcionou no 11º andar e, com a morte do ex-presidente, em agosto de 1976, o local passou a ser uma espécie de Museu JK, conservado sempre com muito carinho.
Como havia muitos alunos de Comunicação, no auditório do CEUB, foi importante contar a histórica transição da revista Manchete de uma fase em que o diretor Justino Martins valorizava o uso de bonitas fotografias, na década de 60, para um período, de muito maior êxito, quando a parte de textos ganhou mais densidade. Foi a partir da compra dos direitos do livro “A morte de um presidente”, do escritor norte-americano William Manchester, publicado em capítulos. A revista deu um salto na circulação nacional, chegando a 350 mil exemplares semanais. Já então ultrapassou a revista O Cruzeiro e se tornou líder no mercado, por muitos anos.
Com tudo isso, nunca houve quem pudesse pensar numa debacle da empresa Bloch. Pois aconteceu – e aí entra a aventura da televisão. Uma outra história.