Quando ontem e hoje se encontram


Arnaldo Niskier

 

Era uma forma de incentivar jovens brasileiros das escolas públicas de ensino médio a ler mais sobre a vida e a obra dos nossos grandes mitos literários, escrevendo depois uma redação de 30 linhas. Os prêmios eram entregues na ABL, então sob a presidência de Austregésilo de Athayde, que sempre fazia discursos muito apreciados pela garotada. Prêmios em livros e dinheiro, abrangendo também as respectivas professoras, que jamais poderiam ser esquecidas.
 
Volto ao reencontro com Ricardo Leitão, esse o nome do jovem que ali estava à minha frente. Um pouco inocentemente, perguntei-lhe o que tinha ido fazer ali, decorridos 22 anos da primeira visita. A resposta me deixou alegre e espantado ao mesmo tempo: “Vim receber o prêmio da ABL destinado a ensaio e crítica literária.”
 
Aquele menino que, em 1990, recebera o maior prêmio da Maratona, patrocinada pela Caixa Econômica Federal e depois Petrobras, era aluno do conhecido Liceu Maranhense, uma escola consagrada pela qualidade do seu projeto pedagógico.
 
Hoje, escritor de méritos, Ricardo é professor da Universidade Estadual do Centro-Oeste (Paraná), depois de ter feito a licenciatura em Letras na Universidade Federal do Maranhão, ser mestre em Literaturas da Língua Portuguesa pela Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho” e autor de diversas obras de valor, como “Simetria do parto” (poemas), “Tradição e ruptura: a lírica moderna de (ensaio), “Primeira lição de física” e “Os dentes alvos de Radamés”.
 
Para receber o prêmio da ABL, Ricardo escreveu um ensaio muito elogiado por Eduardo Portella, com o título “Os atenienses, a formação do cânone nacional”, que é o prosseguimento da obra do notável crítico Antonio Cândido, carioca que vive há muitos anos em São Paulo. É um mergulho nas obras de autores do século XIX, utilizando fontes primárias com grande competência. Faz o seu estudo reconhecendo que, à época, vivia-se num “mar de analfabetismo”, com uma paupérrima instrução pública.
 
Nesse pano de fundo, o autor premiado percorreu bibliotecas, livrarias, teatros e escolas, buscando elementos para desenvolver a sua tese. O trabalho saiu pela Editora Ética, da cidade maranhense de Imperatriz. Segundo o acadêmico Antonio Carlos Secchin, “desde José Veríssmo, não se escreveu melhor obra do que a de Ricardo Leão sobre os atenienses do Maranhão”, o que comprova a qualidade do trabalho do nosso simpático maratonista.