Guerra e Paz


Arnaldo Niskier

Além de sobrevivermos à atual crise do novo coronavírus importa-nos partir em busca de superação. A quarentena e o necessário isolamento social imposto pela pandemia é um processo mentalmente complicado.

As incertezas do momento estão gerando um fluxo cada vez mais intenso de ansiedade e preocupação, que podem ocasionar a necessidade de acompanhamento por um psicólogo ou psicanalista. Mesmo quem nunca fez terapia encontra acesso, remotamente, a serviços oferecidos por profissionais da saúde mental, com sessões pontuais e gratuitas.

O Conselho Federal de Psicologia e a Federação Brasileira de Psicanálise recomendam a prática. Acompanho com entusiasmo essa inesgotável fonte de força e criatividade da Ciência. “Estar conectado oferece a ilusão de estar em grupo", afirma a minha filha psicanalista Sandra Niskier Flanzer, pós-doutoranda em Teoria Psicanalítica pela UFRJ.

Adaptar-se a essa nova linguagem terapêutica, no entanto, não é tarefa tão simples para quem é “imigrante digital”, grupo no qual me enquadro. Mas, aos 85 anos, continuo depositando minha total confiança na educação como um processo de aprendizado contínuo.

Enquanto faço meus pequenos progressos na internet, destaco uma frase citada no primeiro livro de Sandra, escritora que muito me orgulha também pela vocação poética (já lançou seis obras): “Trago um sério compromisso com as palavras”, diz logo no início de sua original “Pa-lavra”, lançada em 2010, pela Editora Contra Capa.

Os dois ofícios – poesia e psicanálise - partilham um território comum: a palavra. É dela que tenho me ocupado, nesse período da quarentena forçada, inédita em minha vida, na tentativa de manter a serenidade mental.

Em matéria da jornalista Manoela Ferrari, o Jornal de Letras recomendou a leitura do romance Guerra e Paz, de Leon Tolstói, escrito entre 1863 e 1869, ao qual tenho me dedicado a reler neste período. Somam 712 mais 740 páginas as duas partes da obra. O mundo, conforme o autor nos apresenta, é um lugar misterioso onde os fatos nem sempre são o que parecem. A angústia existencial de seus personagens traz mensagens muito importantes.

“É entre as sílabas que habita a aposta”, afirmou minha filha em seu primeiro livro. Eu acrescentaria: é entre os livros, que mora a resposta.