A dúvida foi levantada pelo jornal “O Globo”: como trabalhar literatura com adolescentes, utilizando os livros disponíveis. Os clássicos seriam banidos, pois não estariam mais despertando o prazer de ler?
Essa teoria não está bem comprovada. Livros como “Memórias póstumas de Braz Cubas”, de Machado de Assis, e “O Cortiço”, de Álvares de Azevedo, deveriam receber tratamento especial no ensino superior, mas não no ensino médio, como se faz hoje em dia. Sim ou não?
Todas essas dúvidas, apesar da pandemia, estão presentes nas escolas das capitais. Há uma onda que defende a produção contemporânea, pois estaria ela mais próxima da realidade dos alunos. Ela é favorável a autores como Paulo Coelho, sucesso no mundo inteiro, e Thalita Rebouças, com tiragens apreciáveis. Como podem ser explicados esses sucessos, a que se pode agregar o sucesso de Paulo Lins?
Nessa discussão podemos colocar o fenômeno da preguiça intelectual, que durante muitos anos favoreceu as chamadas histórias em quadrinhos, hoje muito mais admitidas do que há 50 anos. Um editor ganhou méritos nessa discussão. Foi ele Adolfo Aizen, da Editora Brasil-América, que resolveu quadrinizar grandes clássicos brasileiros – e o fez com sucesso comercial.
A leitura assim suavizada deu bons resultados e mostrou que há novos caminhos que podem ser buscados para essa valorização. A inteligente autora Thalita Rebouças, que hoje presta serviços à Rede Globo, junta Paulo Coelho e José de Alencar, segundo ela, com excelentes resultados. É defensora entusiasmada da diversidade literária – e enxerga por aí um glorioso caminho, “pois não se pode e nem se deve descartar os clássicos do ensino médio.” Ela defende a tese de que a perda, por fechamento, das pequenas e médias livrarias gera dificuldades imensas, que precisam ser contornadas. Mas acha que os professores, compreendendo o fenômeno, devem se esforçar para tornar mais suave o aprendizado da leitura, tirando o que há de bom nos clássicos com os quais se pode contar para ensinar aos jovens leitores.
A questão do prazer de ler pode ser vencida pela competência didática, a que se deve dedicar o nosso magistério.