Lourdes e a Sociedade Brasileira


Arnaldo Niskier

Em Araras (perto de Petrópolis, Estado do Rio de Janeiro), no seu sítio, o empresário Daniel Miguel Klabin comemorou os seus 90 anos de idade. Presença de familiares e muitos amigos, entre os quais tive o privilégio de reencontrar a sua sogra (mãe da doce Bebel) Lourdes Catão.

Onde a conheci? Foi na redação da revista “Manchete”, onde pontificava o colunista Ibrahim Sued, com a sua famosa lista das “Dez mais”. Uma vez por ano, com enorme repercussão, o nosso mais famoso cronista social caprichava na relação, em que figuravam Carmen Mayrink Veiga, Teresa Souza Campos e, invariavelmente, a minha amiga Lourdes Catão, elegantíssima e casada com o industrial catarinense Álvaro Catão. Elas se revezavam na capa da revista.

A última vez em que a vi foi nessa festa. Bonita, simpática, parecia a miss de sempre, conservando a faceirice dos moços da sua geração. Cheguei a perguntar-lhe sobre o livro “A Sociedade Brasileira”, que ela herdara da sua irmã Helena Gondim. Fez três edições, com muito sacrifício, pois cansou dos muitos pedidos recebidos para figurar na obra. Era imensa a lista dos que queriam pertencer à sociedade através das suas páginas.

Foi uma figura lendária. Podia ser encontrada por vezes sem conta na boate Vogue, em Copacabana, em companhia do marido. Moravam numa linda casa na Urca. Quando se separou, em 1970, entendeu que deveria se mudar para Nova Iorque, onde se tornou competente decoradora. Comprava apartamentos, decorava-os com o seu extraordinário bom gosto, e promovia a revenda, por um bom preço. Assim conseguiu viver, dignamente.

Quando chegou a hora, resolveu voltar ao Rio, para morar num luxuoso apartamento do Edifício Biarritz, no bairro do Flamengo. Decorou a sua residência com o esplendor habitual, e foi uma pessoa feliz.

Lourdes chegou aos 93 anos de idade e foi vítima da Covid-19. Como disse com muita propriedade a minha amiga Lu Lacerda, “ela jamais aposentou o cetro da elegância. Em qualquer momento em casa, em qualquer lugar, estava sempre impecável, ostentando um bonito anel de safira, herança da sua avó. Era um escândalo de bonita.”