O defensor do Tupi-Guarani


Arnaldo Niskier

 

Afonso Henriques de Lima Barreto, nascido em 13 de maio de 1881, no Rio de Janeiro, era filho de João Henriques de Lima Barreto, tipógrafo da Imprensa Nacional, e de Amália Augusta Barreto, professora. Graças às ligações de seu pai com o Visconde de Ouro Preto, ministro do Império, que também foi o seu padrinho de batismo, ele frequentou os bancos escolares do antigo Ginásio Nacional (hoje, Colégio Pedro II), e também foi aluno da Escola Politécnica, onde pretendia se formar no curso de Engenharia. Foi neste estabelecimento que travou conhecimento com figuras como Bastos Tigre, que o levou a colaborar em diversas publicações, inclusive na chamada imprensa estudantil.
 
 Depois que o seu pai foi internado, após ser diagnosticado como louco, Lima Barreto abandonou os estudos, em 1902, e assumiu a responsabilidade de administrar e sustentar sua família, constituída de seu pai e seus três irmãos, já que sua mãe havia falecido quando tinha seis anos. Através de concurso público, passou a trabalhar na Secretaria de Guerra, em 1903. O curioso é que havia apenas uma vaga e ele ficou em segundo lugar, mas como o primeiro colocado desistiu, Lima Barreto foi convocado a assumir o posto de trabalho.
 
Mais tarde, em 1907, fundou a revista Floreal, juntamente como Antonio Noronha Santos, Ribeiro Filho, Curvelo Mendonça, Fábio Luz e outros. Apesar de terem sido editados apenas quatro números, a revista teve o privilégio de publicar alguns capítulos do romance Recordações do escrivão Isaías Caminha, que na época chamou a atenção de José Veríssimo. Em 1909, este romance foi lançado em Lisboa, com boa receptividade. O livro mostra os bastidores de um grande jornal, onde o escrivão observava o preconceito racial contra os negros e mulatos no período posterior à abolição da escravatura. Outras atitudes lamentáveis também eram registradas pelo personagem. Por essas particularidades, o escritor Josué Montello achava que o personagem Isaías Caminha era  o alter-ego do próprio Lima Barreto. 
 
Ainda seguindo a moda dos folhetins, o escritor iniciou a publicação de Triste Fim de Policarpo Quaresma no Jornal do Commercio, em 1911. Trata-se da principal obra de Lima Barreto. As frustrações do funcionário público Policarpo Quaresma, fanático e sonhador, são levadas às últimas consequências, e suas reivindicações, ridicularizadas. Afinal, sugerir a substituição do português pelo tupi-guarani como língua oficial do Brasil só poderia ter como resultado a internação do personagem em um hospício.

 Outra obra marcante de Lima Barreto que também veio a público através de folhetins foi a sátira Numa e a Ninfa, nas páginas do jornal A Noite, em 1912. Ele soube utilizar com maestria os atos do personagem Numa Pompílio de Castro, bacharel e deputado, para desmontar os tipos dominantes da sociedade burguesa de então, criticando a hipocrisia e os falsos moralismos.
 
Em 1919, Lima Barreto lançou o livro Vida e Morte de M. J. Gonzaga de Sá, uma sátira dos costumes da época aos doutores e burocratas. A obra recebeu elogios de João Ribeiro e Alceu Amoroso Lima.
 
Outros livros de Lima Barreto foram editados (alguns após a sua morte) e compõem, juntamente com os quatro citados antes  um conjunto de obras marcantes.   
                  
 Problemas de saúde sempre acompanharam o escritor Lima Barreto, principalmente devido a abusos no consumo de bebidas alcoólicas. Em 1914, ele já havia sido recolhido em um hospício, fato que se repetiu dois anos depois. Quando foi diagnosticada sua incapacidade, em 1918, foi aposentado do serviço público. No ano seguinte, mais uma passagem pelo hospício mostrava  ainda dependente da bebida. Até que em 1º de novembro de 1922, aos 41 anos, Lima Barreto morreu de colapso cardíaco.