Quando os tempos eram dourados
Arnaldo Niskier
No período de 79 a 83, quando ocupamos a direção da Secretaria de Estado de Educação e Cultura do Rio de Janeiro, vivemos tempos inesquecíveis. O governador Chagas Freitas era obrigado a investir 25% do orçamento em educação, mas determinou que esse percentual subisse para 33% - e foi o que aconteceu. Fui testemunha disso.
Assim, construímos 88 novas escolas em todo o Estado. Para se ter ideia do que isso representou, no primeiro governo de Sérgio Cabral, de 2007 a 2011, foram construídas somente três escolas novas.
Tivemos o capítulo memorável dos salários do magistério. Eram miseráveis e os professores, em 1979, não aguentando mais a pressão, fizeram uma greve histórica com que fomos recepcionados no novo governo. Recebi a lista das reivindicações e levei ao governador. “Vou atender a tudo o que eles pedem” – foi a resposta do dr. Chagas. Ainda ponderei se ele não queria negociar os itens. Sua resposta: “Qual de nós não deve a vida a um professor? Vou dar tudo o que eles querem.” E assim surgiram aumentos de até 1.000%, determinados na minha frente ao Francisco Melo Franco, Secretário de Planejamento.
Vocês sabem qual foi o resultado disso tudo? Melhorou a performance da educação no Rio de Janeiro, em todas as matérias. Ninguém tinha dúvida de que os resultados seriam altamente positivos.
Depois, vieram os chamados tempos bicudos. De novo, os salários foram comprimidos, não surgiram novas salas no Estado e a educação deixou de ter a prioridade devida. Em consequência, é o que se vê hoje em dia, uma situação profundamente lamentável. O Brasil tem cerca de 200 mil escolas, a maioria sem bibliotecas e laboratórios compatíveis.
A escola tem sido pressionada a integrar a educação com tecnologias eletrônicas, mas nem todos os espaços físicos estão adaptados para receber os equipamentos e muitos docentes ainda não dispõem de conhecimentos teóricos e práticos para o uso dos novos recursos didáticos. A escola, enquanto espaço físico, precisa reunir as condições materiais para a implantação de equipamentos e programas. As novas tecnologias, aliadas à práxis do ensino, aprimoram e dinamizam o processo educacional. As inovações tecnológicas potencializam o ensino-aprendizagem; as instituições de ensino não podem prescindir delas; o docente precisa ser estimulado ao uso dos novos recursos.
É essencial corrigir essas falhas. As sociedades mais bem-sucedidas economicamente e as que alcançaram os graus mais elevados de bem-estar são as que mais dominam as várias áreas do saber. A questão da Educação é estratégica para atingir o estágio de desenvolvimento que almejamos como nação.
Como se vai enfrentar a educação do futuro, com todas as implicações do emprego da informática, só Deus sabe. Mas existe a esperança de uma ampla renovação, naturalmente com as luzes de um novo governo.