O perigo das drogas


Arnaldo Niskier

 

Quando sabemos que há autoridades, de maior ou menor notoriedade, que defendem ardorosamente a descriminalização do uso da maconha a pronta reação é de tristeza. Parece que essa gente não sabe o que está fazendo. A Cannabis sativa interfere na capacidade de aprendizagem e memorização dos seus jovens consumidores, portanto é prejudicial à educação, além de provocar intensa taquicardia (140 ou mais batimentos por minuto), colocando em risco a própria vida dos seus usuários.
 
O Brasil vive um período dramático em relação ao consumo de drogas. Se o jovem começa pela aparentemente inocente maconha, logo poderá estar às voltas com pragas piores, como o crack e a cocaína. O primeiro, pelo preço convidativo, assume características de epidemia e traz danos físicos e psíquicos lamentáveis, como sequelas no pulmão, no coração, no sistema nervoso, na perda da fome e do sono, além de outras lesões que surgem rapidamente no organismo dos seus usuários, hoje vistos a céu aberto nas cidades brasileiras. É caminho certo para a morte precoce.
 Nossas autoridades estão preocupadas com o fenômeno, que traz evidentes prejuízos à educação. Conversamos em Brasília com a dra. Paulina do Carmo Arruda Vieira Duarte, Secretária Nacional de Políticas sobre Drogas (Senad), que é Assistente Social especialista em Psicologia Social pela PUC do Paraná, além de mestre e doutora pela USP. Dela ouvimos relatos dramáticos sobre a matéria. Antes, defendeu a tese de que os professores em regência de classe devem dirigir-se prioritariamente à maioria que não usa drogas (só eventualmente utilizam o tabaco ou consomem álcool). Esse trabalho é o que se chama de prevenção universal, a que seguem as prevenções seletiva (para crianças de comportamento agressivo e filhos de dependentes de droga) e indicada, esta dirigida a indivíduos que já vêm usando substâncias, de modo arriscado, mas que não são dependentes.
 
A dra. Paulina do Carmo sugere que não se exagere os dados de consumo de drogas na nossa sociedade, embora se saiba que os grandes jornais e as televisões toquem diariamente no assunto. Ela entende que a maioria dos nossos jovens é saudável e prefere se abster. O exagero no trato pode ter efeito negativo.
 
Mas não se pode usar de contemplação com traficantes, muitas vezes infiltrados nas próprias escolas. Contei a experiência vivida numa escola da Zona Sul do Rio, que dirigi durante três anos. O jovem “ficava doente” toda quinta-feira, mas era visto ao meio-dia, horário de saída, na porta da escola. Apurando, chegamos à conclusão de que era um “avião” que trazia o tóxico para o local. Não restou alternativa senão expulsá-lo, inclusive para servir de exemplo.
 
A Senad publicou diversos cadernos para servir de apoio ao trabalho dos professores. E realiza cursos de prevenção do uso de drogas para educadores das nossas escolas públicas, inclusive com a modalidade de educação à distância, todos de excelente qualidade. Há muito o que ser feito no atual quadro que estamos vivendo, pois o fenômeno infelizmente é crescente.