Mais escolas ou melhores professores
Arnaldo Niskier
O Ministério do Trabalho anuncia milhares de desempregados. Empresas poderosas dão férias coletivas. Investimentos antes anunciados são adiados para melhores dias. Onde isso tudo vai parar, só Deus sabe.
Existem os problemas estruturais de sempre, como é o caso da educação. A rede pública de ensino básico perdeu meio milhão de matrículas em 2008. O setor privado ganhou 715 mil alunos (aumento de 11%), o que não é consolo, pois no total há uma tendência à redução de matrículas, especialmente nas redes estaduais e municipais.
O País perde substância demográfica na sua população dos 7 aos 14 anos de idade. Há uma diminuição clara nas taxas de natalidade. O ministro Fernando Haddad garante que a nossa população até 17 anos vai encolher em 7 milhões de habitantes, nos próximos dez anos, caindo de 58 milhões para 51 milhões. É um fator estratégico de grande relevo para os que projetam o futuro da educação brasileira. Precisamos de mais escolas e/ou mais e melhores professores? Ainda não se sabe o papel desempenhado pelo Bolsa Família, nesse processo. Será a razão do crescimento do setor privado?
O elemento positivo a se considerar, pelo Censo Escolar 2008: houve um aumento de 14,7% na educação profissional, ou seja, mais de 101 mil estudantes, que hoje totalizam 795.459 matrículas. Pode-se estimar que ocorra um crescimento em progressão geométrica, com as novas escolas federais criadas pelo Governo Lula, o que indica um caminho positivo – e inédito – em nossa Pedagogia. É o segmento com maiores possibilidades de atendimento à demanda, contrariando uma tendência histórica de desprezo pela educação profissional. Vale lembrar que ela nasceu no Governo Nilo Peçanha, no início do século 20, para “crianças desvalidas” e alcançou a Constituição outorgada de 1937 com a triste percepção de que “o ensino técnico-profissional seria destinado às classes menos favorecidas”. Hoje, há um sentimento exatamente oposto, que precisará ser mais e mais prestigiado, apesar das ameaças da crise econômica mundial.
A contribuição de estados e municípios é importante, verificando-se resultados apreciáveis, na oferta de vagas, especialmente em Brasília, Rio de Janeiro, Acre e Amazonas. São dados irrefutáveis, criando uma nova dinâmica no quadro de matrículas, aliás, uma reversão extremamente importante: os maiores crescimentos têm se revelado nas creches implantadas (10,9% de 2007 para 2008), na educação infantil (3,2%) e na educação profissional, que ficou em 1o lugar com a expansão de 14,7%. No geral, o ensino médio cresceu 2%.
Para os estrategistas, convém pesquisar sobre os dados anunciados. Localizar as novas escolas em regiões de demanda certa – e com a garantia de uma adequada formação de professores e especialistas de qualidade. Desse quadro pode-se extrair a convicção de que há quase uma revolução, na oferta pragmática de vagas para os jovens que assegurarão ao País o desenvolvimento autossustentado. Não é o que se deseja?