Acordo ortográfico em debate
Arnaldo Niskier
Foi uma bela e importante iniciativa da Universidade do Estado do Rio de Janeiro, da Folha Dirigida e do Centro de Integração Empresa-Escola/Rio. A realização do Seminário de Língua Portuguesa, no campus do Maracanã, em agosto deste ano, revestiu-se de grande êxito, não só pelos oradores que trataram da matéria, como também pelo comparecimento de jovens e professores, num total superior a 300 (houve gente sentada nas escadarias do anfiteatro). Um sucesso completo, durante mais de três horas.
O primeiro a falar foi o jornalista Adolfo Martins. Citou questionamentos que se fazem, a respeito da aplicação do Acordo Ortográfico, tendo como ponto fulcral a questão do hífen, a que mais suscita discussões. Fez um apelo público para que os universitários leiam cada vez mais e manifestou a esperança de que haja um adequado entendimento entre os oito países da comunidade lusófona, para que todos ganhem com essa implantação.
Depois, Domício Proença Filho, da Academia Brasileira de Letras, ressaltou que as mudanças não foram mesmo profundas e que ainda restam muitos pontos polêmicos, a merecer novos estudos. Foi enfático: “O Acordo altera apenas a grafia, respeita a diferença da pronúncia, ou seja, muda apenas a roupa das palavras.” Sugeriu um novo Grupo de Trabalho para dar sequência ao projeto.
Muito aplaudido, o filólogo Evanildo Bechara, da ABL, começou citando Machado de Assis, com a afirmação bastante elucidativa: “Sempre achei que a gramática é uma coisa muito séria. Uma boa gramática é antes um serviço a uma língua e a um país.” Diante da plateia predominantemente de alunos de Letras, Bechara atribuiu ao excesso de teorias linguísticas, nos cursos de Letras, o descaso com que é tratada a Gramática, nos dias atuais: “Essa orientação equivocada faz com que docentes saiam mal formados e, por sua vez, não saibam realizar um bom trabalho no ensino da língua materna.” Insiste que temos de valorizar a Gramática, nunca a gramatiquice, mas ensinar os alunos a fazer um uso reflexivo e competente dos seus postulados.”
Hoje, o professor conhece a teoria gramatical, mas não conhece a língua. “A leitura é como um terreno que, se não for cultivado, será improdutivo.” Já a professora Luciana Rodrigues Alves, que falou sobre o uso do internetês em salas de aula, mostrou os resultados de uma pesquisa feita com alunos de uma escola pública de Nova Iguaçu: “Pedi uma redação sobre “Amor incondicional” e, para surpresa minha, só três dos 23 trabalhos continham expressões do internetês: “A maioria tem consciência de que uma redação é diferente. O principal problema, pois, não é o uso do facebok ou do orkut, mas a falta de leitura e a dificuldade de estruturar o pensamento.” Aconselha: “Eles precisam dominar a norma culta, exigida nos vestibulares e nos concursos públicos.”
Por fim, defendemos a existência do Acordo Ortográfico: “Existe uma razão estratégica para que ele seja implantado. Somente as línguas que têm uma única grafia podem se tornar línguas oficiais da ONU, pretensão antiga que nos foi até aqui vedada, embora sejamos no mundo algo em torno de 240 milhões de falantes.”