O Homem só é homem pela Educação


Arnaldo Niskier

 

Não se tratava de obsessão. Era muito mais a identificação com um pensamento que encaixava à perfeição no ideal pedagógico de D. Lourenço de Almeida Prado, extraordinário educador e homem de fé, que nos deixou aos 97 anos de idade. Durante 45 anos dirigiu com muita propriedade o tradicional e respeitável Colégio de São Bento.
 
O pensamento a que nos referimos era sempre repetido por D. Lourenço, que o tomou emprestado do filósofo alemão Kant: “O homem só é homem pela educação.” Sem estar educado, poderia perfeitamente lembrar um troglodita.
 
Tivemos um amável convívio de muitos anos. Primeiro no Conselho Estadual de Educação da Guanabara, que funcionava no 2o andar de um prédio na rua da Quitanda, no centro do Rio. Com que prazer, na década de 70, participávamos de incríveis debates, muitas vezes alimentados igualmente pela cultura e os conhecimentos de outro famoso religioso: o padre Leme Lopes, que lecionava na PUC/RJ. Um tema que não sai da nossa lembrança: ministrar ou não orientação sexual nas escolas de ensino médio. Havia, na época, um movimento para que não acontecesse, com os riscos naturais pela delicadeza do tema.
 
Quando o debate extrapolava os limites das burocráticas sessões semanais do CEE, D. Lourenço oferecia as excelentes instalações da escola de que era diretor, com o tema “ensino profissionalizante obrigatório”, tentativa fracassada da Lei no 5.692/71. A memória guarda a presença de grandes educadores, nessas reuniões, como foi o caso da igualmente inesquecível professora Esther de Figueiredo Ferraz, a primeira mulher brasileira a ocupar o comando do Ministério da Educação. Foi com essas contribuições que consegui acumular conhecimentos que enriqueceram a minha já longa carreira de educador.
 
Depois, ocorreu o reencontro mais próximo com D. Lourenço, no plenário do então respeitadíssimo Conselho Federal de Educação (década de 80), em Brasília. Foi ali, num discurso, que o chamei, sem qualquer exagero, de “o santo da educação brasileira.” Os seus pareceres eram lapidares, sempre baseados numa sólida e competente cultura filosófica.
Pude compreender a razão de se manter o Colégio de São Bento, há tantos anos, como um dos três melhores do Brasil. As pesquisas do MEC sempre comprovam o fato. Se é possível a afirmação, era um homem de espírito aberto às inovações, sem deixar de ser extremamente exigente, no que se referia à cultura humanística. Isso é ser conservador? Sabia dosar como ninguém esses elementos estratégicos.
 
O corpo de D. Lourenço de Almeida Prado, paulista do interior, médico e depois religioso, descansa hoje no claustro do Mosteiro de São Bento. Como disse ao Abade D. Roberto Lopes, é o melhor exemplo de uma vida muito bem sucedida no sacerdócio pedagógico. Um nome para sempre lembrado com todo respeito.