O centenário de Roberto Campos


Arnaldo Niskier

Estamos comemorando os primeiros 100 anos de Roberto Campos. Foi uma figura importante da História do Brasil e, por essa razão, a Editora Resistência Cultural lançou o livro “Lanterna na proa – Roberto Campos ano 100”, organizado por Ives Gandra da Silva Martins e Paulo Rabello de Castro. Mais de 60 personalidades brasileiras ofereceram preciosas contribuições sobre a vida e a obra do grande pensador brasileiro.

De minha parte, escrevi o artigo “Tempos de Fardão”, em que lembrei a sua figura polêmica, apesar de ter a candidatura defendida por uma das mais extraordinárias escritoras da Casa de Machado de Assis: Rachel de Queiroz, a primeira mulher a entrar para a imortalidade.


Em outubro de 1999, sua escolha para a cadeira no 21, deixada pelo dramaturgo Dias Gomes, provocou grandes conflitos. Alguns imortais se opuseram à sua eleição. Campos, apesar da  resistência, ganhou o fardão, ironizando: “As esquerdas queriam criar uma reserva de mercado para as vagas que surgissem na Academia”, disse ele na ocasião. Seu discurso de posse durou mais de uma hora e teve enorme repercussão. Fez alguns desaforos aos adversários.  Defendeu o regime militar, criticou a ideologia da esquerda e desencadeou sua verve frasista como se fosse a última vez: “Como alvo de personalismos injuriosos, ganhei todos os campeonatos desta pátria amada, sofrendo patrulhamento e recebendo xingamentos tanto da esquerda radical como dos nacionalistas de direita”.


Quando o tema era Roberto Campos, não havia meia medida. Ou muito elogio ou muita crítica. Os críticos acusavam-no de vendido ao imperialismo norte-americano, o que era, naturalmente, um equívoco. Dono de uma extraordinária cultura, sedimentada nos primeiros anos de estudos em seminário jesuítico, Roberto Campos foi um dos mais cultos embaixadores brasileiros. Seus textos eram lapidares, sobretudo aquele que forjou para contar a sua fascinante biografia. Foi batizado como A lanterna na popa e se constituiu num clássico da nossa memorialística. Nele, jogou no pensamento brasileiro todos os conflitos e perplexidades da história brasileira no século passado.


O uso que Roberto Campos fazia da palavra era de extrema sabedoria. Havia nele uma perfeita adequação entre o pensamento e o modo como colocava os vocábulos, tornando o mais difícil dos estilos – o argumentativo – numa arma poderosa. São dele pensamentos memoráveis, tais como: “Mais importante que as riquezas naturais são as riquezas artificiais da educação e tecnologia”; “Cometi o único pecado que a política não perdoa: dizer a verdade antes do tempo”.

Se eu tivesse de escolher alguém que haja trabalhado, incessantemente, com lucidez e alegria, inteligência e imaginação, para convencer e propor a seus patrícios – isto é, o que têm a mesma pátria – de que fora da liberdade não há saída – e de que o pensamento livre é a base da liberdade –, eu não hesitaria em apontar um nome: Roberto Campos.