Afinal uma boa idéia


Arnaldo Niskier

Num país onde um cantor da popularidade de Caetano Veloso dá vivas ao povo palestino, sem explicitar a razão, justo na semana em que a ONU comprova que os seus militantes, na agressão de 7 de outubro, violentaram sexualmente mulheres israelenses, sempre se espera sobretudo de órgãos como o Ministério da Educação alguma sugestão que possamos aplaudir entusiasticamente. 
 
Foi o que acaba de acontecer, quando se anuncia que o Governo resolveu transformar a antiga sede da Leolpoldina, no Rio de Janeiro, numa utilíssima Escola Técnica,  em área de 114.000 metros quadrados. Antes foi pensado em ser museu, mas a ideia não vingou. É claro que ser uma Escola Técnica vai ter a maior serventia, ainda mais quando se sabe que o novo estabelecimento de ensino estará a poucos metros da antiga e conceituada Escola Técnica Federal, situada na Rua General Canabarro, e que é modelo para outras escolas técnicas existentes no país (ou a serem criadas).
 
Gosto de contar a história da minha visita à Escola Aron Singalovsky, em Tel Aviv, com os seus notáveis 5 mil alunos. O seu diretor, que era um educador argentino, me contou que 1/3 do corpo discente subia para o ensino superior. Os outros 2/3 se formavam em profissões de nível intermediário – e tinham imediato acesso ao mercado de trabalho, com bons salários.
 
Penso que hoje esse esquema deve estar ainda mais aperfeiçoado, com o nascimento acentuado de atividades nos campos da Informática, Mecatrônica, Inteligência Artificial, etc. Esse progresso é irreversível.
 
O Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) divulgou, recentemente, um estudo mostrando que somente 25% dos estudantes formados em cursos de nível médio técnico do país acabam trabalhando em ocupações que requerem esse tipo de formação. 
 
Este descompasso na educação brasileira  demonstra que o ensino precisa ser repaginado e alinhavado com o mercado de trabalho. O estudo do Ipea mostra que pessoas sem formação técnica têm um ganho de apenas 6% no salário quando atuam em uma vaga para a qual essa qualificação é exigida. Já os que têm formação técnica para a vaga ganham mais.
 
De acordo com o levantamento, quando uma pessoa com formação técnica ocupa uma vaga específica para esse tipo de qualificação, seus rendimentos tendem a aumentar em média 25%. Apesar disso, essas posições continuam não atendendo ao público para o qual são destinadas.
 
O ensino técnico brasileiro está desconectado das demandas do mercado e muitos cursos ficaram obsoletos. A crítica é antiga também entre os educadores e foi, inclusive, uma das justificativas para embasar a necessidade de uma reforma no ensino médio brasileiro.
 
O ensino técnico tem recebido atenção especial nos últimos anos. Em 2014, o Plano Nacional de Educação (PNE) estabeleceu que, até 2024, o Brasil deve alcançar cerca de 5,2 milhões de matrículas de educação profissional de nível médio. Atualmente, elas chegam a 1,9 milhão, de acordo com o último Censo Escolar.
 
Em 2016, com a reforma do ensino médio, a educação profissional ganhou destaque. A partir da nova lei, a etapa deve permitir que os alunos escolham o caminho para sua formação entre cinco áreas: Ciências Humanas, Ciências da Natureza, Matemática, Linguagens ou formação técnica e profissional.
 
É preciso entender o curso técnico com uma visão mais emancipatória, como um começo do ingresso do jovem no mercado. Ele ainda é visto como uma função menos qualificada do que o curso superior. Novas maneiras de formar e seguir aprendendo precisam ser construídas.