Escrevi sobre o empoderamento feminino lá em casa (“O Dia,” de 28/1/19) e deixei de propósito para citar a minha irmã em separado. Foi a quinta filha do casal Fany e Marcos, depois de terem nascido quatro homens. O meu pai dizia que não ia parar de ter filhos (coitada da minha mãe) enquanto não viesse uma menina. E isso aconteceu em 5º lugar. Já imaginaram se fosse em 8º ou 9º?
A Rachel sempre foi um encanto lá em casa. Era a mais nova, sempre muito bonita, e fez uma bela carreira em medicina. Teve um desempenho brilhante no curso na Faculdade de Ciências Médicas da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ), especializando-se em Pediatria. Não quis clinicar, pois detestava o lado comercial da profissão, preferindo o seu aspecto científico.
Com esse zelo integrou os quadros de grandes e notáveis instituições, ganhando renome internacional. Em 2002, ela era conselheira titular do Conanda (Conselho Nacional dos Direitos da Criança e do Adolescente), e coordenou, para a Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP), a “Campanha Nacional de Prevenção de Acidentes e Violência na Infância e Adolescência”. A sua atuação foi marcante e mostrou que a violência doméstica potencializava a violência social e ocorria de forma velada entre os mais ricos. Essa avaliação era resultado das diversas visitas que ela fazia por todo o Brasil, conhecendo a fundo o funcionamento das instituições que cuidavam de menores infratores, como as antigas “FEBEMs”. Rachel fazia questão de conversar com os adolescentes para saber os motivos pelos quais eles cometiam atos que conflitavam com a lei. Na maioria das vezes, eles saíam de casa fugindo da violência praticada pelos próprios pais.
Também chamou a atenção outra campanha da SBP, também sob a coordenação de Rachel, chamada “Violência é Covardia – crescer sem violência é direito fundamental das crianças e adolescentes”, que foi deslanchada em 2016. Nesta, outros aspectos foram abordados, como abuso sexual, negligência e maus tratos psicológicos. A preocupação era mostrar que é possível e saudável promover nas residências uma educação livre de atos violentos.
No período em que fez parte do Conselho Estadual de Defesa da Criança e do Adolescente do Rio de Janeiro, ela se preocupou em resolver os principais problemas sociais que afetavam (e infelizmente ainda afetam) os jovens e adolescentes aqui do nosso estado. Temas como o atendimento do adolescente vítima de violência na emergência e violência psicológica intrafamiliar sempre foram objeto de estudos e intervenções da entidade. A atuação de Rachel ajudou a reforçar a ideia de que um relacionamento sadio e amigável na família contribui para que os meninos e meninas se tornem adultos plenos, produtivos, companheiros, solidários, generosos, bons cidadãos, bons pais e eternamente bons filhos.
Com o bom humor que lhe é peculiar, Rachel Niskier Sanchez diz que se considera uma “jurássica” na luta em defesa das crianças e adolescentes, um título que ela procura honrar. Há muitos anos ela ficava abordando transeuntes e colhendo assinaturas para a aprovação do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), “numa mesinha”, no centro da cidade do Rio de Janeiro. Isso foi antes de 1990, quando o Estatuto ainda não havia sido sancionado. Depois de tantas lutas e conquistas, hoje, é uma competente e conceituada profissional que presta serviços no Instituto Fernandes Figueira, participando com êxito de palestras e seminários.