Um plano Marshall para a educação


Arnaldo Niskier

Ainda em Estocolmo, enfrentando um frio de 6 graus negativos, uma jovem repórter sem aproxima, à frente da famosa Academia Sueca de Ciências, que iria visitar, e faz a pergunta de chofre: “Na sua opinião, é fácil resolver os problemas da educação brasileira?” Ora, nada mais difícil, principalmente se forem mantidas as atuais condições de financiamento do setor.
 
Temos recursos que se aproximam de 60 bilhões de reais, o que corresponde a pouco mais de 4% do PIB. Não é pouco, mas é insuficiente. Partindo do princípio de que se está investindo de forma correta, cristalina, ainda assim os imensos desafios existentes só poderão ser enfrentados e vencidos, a curto e médio prazo, se reservarmos algo em torno de 7% do Produto interno Bruto para a função Educação, a nosso ver, a mais importante de todas elas.
 
Volto à repórter na Suécia para lembrar a resposta dada: “É preciso um Plano Marshall para a educação brasileira.” Tive que explicar a gênese do que isso representou para a Europa devastada pela II Guerra Mundial. Autoridades dos Estados Unidos, então numa invejável situação econômica, encarregaram o vitorioso General George F. Marshall de elaborar um plano que, em síntese, tinha como objetivo o que se expressava no seu discurso de 5 de junho de 1947, na Universidade de Harvard: “Nossa política não se dirige contra nenhum país ou doutrina, mas contra a fome, a pobreza, o desespero e o caos.”
 
Assim, foram disponibilizados 13 bilhões de dólares para empréstimos a países que sofreram os efeitos negativos da Guerra, quantia que hoje corresponderia a algo em torno de 120 bilhões de dólares, somente para investimentos. A consequência foi a recuperação econômica da Europa – e isso deu grande projeção ao que se denominou de Plano Marshall, com o seu elenco de aquisições de matérias-primas, produtos semi-industrializados, combustíveis, veículos e máquinas, utilizando recursos dos impostos de cidadãos norte-americanos.
 
No caso do Brasil, não fomos devastados por nenhuma guerra, mas é evidente que temos enormes problemas a enfrentar. É preciso mobilizar recursos, seguramente alguns bilhões de dólares, para um projeto de grandes proporções, com o nome que venha a ter. Remendos aqui e ali não podem ser consideradas soluções, como é o triste caso da existência de 14 milhões de analfabetos acima dos 15 anos de idade ou dos mais de 30 milhões de semialfabetizados. Será que mo pré-sal pode estar a solução?
 
Como diz com muita propriedade o ex-ministro Ernane Galvêas, que é um apaixonado pela educação, “temos uma desorganização endêmica, em nível nacional, que dificulta o encontro de uma solução definitiva.” É preciso estudar de que forma poderiam ser levantados esses recursos, consideradas também as outras prioridades do país, mas com a firme disposição de resolver de vez problemas como a valorização da educação infantil, a remuneração do magistério, a aplicação do tempo integral nas escolas, o emprego de currículos modernos e palatáveis aos jovens estudantes, e mais a sua correta profissionalização, nos níveis intermediário e superior.