Educação e o Hibridismo - No Brasil


Arnaldo Niskier

Data de 1904 a criação, no Brasil, dos antigos cursos por correspondência, que tiveram uma grande divulgação, com a criação do Instituto Monitor, em 1931, e com o Instituto Universal Brasileiro, em 1941. Tempos depois, na década de 70, o assunto foi tratado com muita determinação e seriedade, no âmbito do Ministério da Educação, graças aos esforços de Jarbas Passarinho e Newton Sucupira.
Com o surgimento de modernas técnicas, e também com a massificação da internet, virou moda um novo nome na área: Educação à Distância (EAD). Vale lembrar que no exterior a chamada universidade virtual conquistou seu espaço desde a década de 70. Na Inglaterra, por exemplo, a EAD é uma realidade e a Open University tem o respeito de todos.
 
Aqui no Brasil, somente em meados da década de 90, com a reforma realizada através da implantação da Lei de Diretrizes e Bases da Educação (Lei no 9.394/96), a Educação à distância passou a ser reconhecida oficialmente.
 
A cultura é um processo, de que a educação faz parte. São grandes as carências brasileiras em ambos os campos. Fala-se em universidade pós-moderna, mas os nossos homens de pensamento ainda são tímidos, no reconhecimento da existência de uma cultura pós-moderna, amparada pelos recursos da Era do Conhecimento. Ela seria forte e de grande abrangência, permitindo que a diversidade regional ganhasse mais espaço, preservando as raízes da identidade nacional.  Isso na literatura, na música, no teatro, no folclore, etc.
 
         Chegamos à TV Digital.  Além das estações de sinais abertos, já existentes, outras virão para dar cobertura ao Executivo, ao Legislativo e ao Judiciário, além da Educação, da Cultura e da Cidadania. Cultura para todos poderia é a visão geral do processo, que tem dois ganhos extraordinários, frutos da infindável competência de cientistas e pesquisadores: alta definição e interatividade.
 
Temos evidentes carências, embora se considere a cultura um bom negócio.  O nosso povo se ressente de maior alcance do rádio, da televisão e do cinema, principalmente no interior do país. As raízes culturais em geral não são respeitadas na sua integridade e pureza. Com os mecanismos da educação à distância (EAD) é possível estabelecer um sistema inteligente de trocas, com vantagens para todos.
 
Na América Latina, o Brasil é um dos cinco maiores produtores de softwares para a área e o segundo país em número de alunos, perdendo apenas para o México, que possui universidades virtuais há mais de 30 anos.
 
Hoje, com o avanço tecnológico, os alvos da EAD passaram a ser os indivíduos que já estão inseridos no processo produtivo, com faixa etária acima dos 25 anos e problemas de tempo ou geográficos, para frequentar uma faculdade regular. São também gerentes de bancos ou de supermercados, por exemplo, que se matriculam nos cursos de educação à distância com o objetivo de melhorar o desempenho em seus trabalhos. E sem a necessidade de abandono de emprego ou de afastamento da família. 
 
O esforço para integração de plataformas deve incluir softwares, equipamentos e serviços de telecomunicações. Somente entre os integrantes da Universidade Virtual Pública do Brasil (UniRede), que reúne 70 instituições, já existem 20 projetos estruturados. O próprio MEC também possui uma plataforma de educação à distância, chamada e-Proinfo. Num segundo momento, a iniciativa deverá incluir as universidades privadas.
 
Há diversas experiências em andamento, a partir de autorizações do Conselho Nacional de Educação. Mas o número ainda é pequeno para as imensas necessidades pedagógicas do país.
Uma experiência notável de EAD no Brasil está sendo realizada sob a liderança do Centro de Integração Empresa-Escola de São Paulo. No ar desde março de 2005, hoje dispõe de 37 cursos de curta duração, contemplando um total de 2,5 milhões de matrículas registradas.
O programa, em plataforma própria, é gratuito e tem por objetivo capacitar, aperfeiçoar, aprimorar e atualizar o estudante de ensino médio ou superior, além dos que se devotam à educação profissional. Isso facilita muito a inserção do jovem no movimentado mercado do nosso país.
Todo esse trabalho já rendeu mais de dois milhões de treinamentos, utilizando os seus cursos classificados como atitudinais, conceituais e técnicos. Os primeiros se referem a aspectos voltados ao desenvolvimento de atitudes e comportamentos essenciais do dia a dia, ambiente acadêmico e de trabalho. Os cursos conceituais operam assuntos variados sobre língua portuguesa (atualização gramatical, produção de textos), métodos e técnicas de pesquisa, atendimento ao cliente. Os últimos apresentam conteúdos voltados à tecnologia, como pacote Office, Fundamentos de Rede e Flash.
Há um grande envolvimento de empresas e instituições de ensino no projeto, que trabalha também com um formato de tutoria que promove a participação dos jovens em todas as etapas dos cursos, esclarecendo dúvidas em no máximo 24 horas. Para isso, a plataforma de gerenciamento é essencial.
São fornecidos certificados digitais gratuitos, assim como apostilas de apoio. O sucesso pode ser medido pelo crescimento expressivo do programa administrado pela Superintendência Executiva do CIEE/SP.
Entre os cursos oferecidos, podemos citar: Matemática básica, Cidadania e meio ambiente, Métodos e técnicas de pesquisa, e-mail e internet: uso adequado no ambiente corporativo, Microsoft Excel, o que dá um total de cerca de 30 mil matrículas/mês. Todos com o objetivo de capacitar, aprimorar, atualizar e promover o conhecimento, potencializando aptidões e talentos nas empresas. Nessa empreitada, o CIEE coloca toda a sua experiência de 55 anos, como entidade-líder no campo da filantropia.
 
O maior número de jovens encontra-se no estado de São Paulo, mas o atendimento se faz também em outras regiões, inclusive no Nordeste, onde é possível estabelecer um ambiente propício para o aprendizado e a construção do conhecimento de forma correta e agradável, pois conta com ilustrações de grande qualidade. Talvez esta seja a razão da existência de uma evasão diminuta, que se reduz a cada ano. São utilizadas palavras-chave estimulantes; são constituídas turmas especializadas, acompanhadas de uma tutoria altamente competente, que orienta os jovens e os incentiva a participar dos benefícios do aprendizado. A última conquista do projeto foi a entrada do Rio de Janeiro no circuito, com a adesão entusiástica do seu CIEE. Há um enorme interesse da sua população, que vê a educação à distância como um projeto de primeira ordem e de grande futuro.
 
Para que os resultados sejam positivos, sugere-se o estabelecimento de uma estratégia de marketing cultural, com a novidade de contar obrigatoriamente com os recursos advindos da maior circulação de ideias via EAD. Com o cuidado natural de evitar que, pelo exagero, haja a desfiguração das nossas raízes, bem ao contrário.  Elas seriam fortificadas com esse grande reforço, o que tornaria o Brasil maior na sua integridade, enriquecendo todas as suas elogiadas atividades quando se trata de música, literatura, valorização da língua portuguesa, em colaboração com a Academia Brasileira de Letras, folclore (Reizado, Congado, Bumba-meu-boi etc), teatro, cinema, artes plásticas, dança, etc.
Temos associações, nessas áreas, que são fabulosamente competentes. O que a EAD pode trazer ao processo é um inteligente intercâmbio, com proveito geral. Educação e Cultura devem caminhar lado a lado, pois estreitam as relações com as comunidades, promovendo ações democráticas.