Formação de leitores


Arnaldo Niskier

Há um fato curioso em nosso país: os jovens lêem mais, mas o hábito diminui com a idade, por motivos até aqui inexplicáveis. Para corrigir essa distorção talvez seja conveniente harmonizar as obras canônicas da nossa literatura com os textos utilizados pelos alunos em seu universo cultural de origem. Foi o que Walcyr Carrasco, consagrado autor televisivo, procurou fazer ao adaptar obras de Monteiro Lobato aos padrões reconhecidos da modernidade. Nos tempos de Narizinho, Pedrinho e Visconde de Sabugosa quem poderia imaginar a existência de internet e outros apetrechos do gênero? Na leitura das adaptações de Walcyr isso tudo pode ser encontrado e admirado.

Ao falar no Conselho Técnico da Confederação Nacional do Comércio de Bens Serviços e Turismo, abordando o tema da Educação, não deixei de criticar a pouca importância dada à leitura pelos nossos atuais dirigentes. Haja vista a parcimônia na liberação de recursos financeiros para os livros didáticos. A escritora Mary Del Priore, em aparte, reforçou a importância do livro e da leitura nesse processo, inclusive criticando o número de bibliotecas públicas, hoje muito poucas. A forma de escolha dos livros para a compra oficial não nos parece a mais adequada, tanto que há um claro desperdício. Muitas escolas, depois de meses de espera, acabam descartando as obras selecionadas. Não podemos nos dar ao luxo de jogar fora centenas ou milhares de livros didáticos.

A prova de que esse interesse está vivo foi dada na Bienal do Livro, realizada no Rio de Janeiro. Visitaram o espaço nada menos de 600 mil pessoas, especialmente jovens. Para que se tenha ideia do valor desse número basta comparar com os que prestigiaram o Rock in Rio: 700 mil pessoas.

Segundo o escritor gaúcho Mário Quintana, “livros não mudam o mundo. Quem muda o mundo são as pessoas. Mas os livros mudam as pessoas”. Por isso mesmo é que devemos nos dedicar com mais afinco a esse setor.

Foi a discussão que travamos na CNC, num dia extremamente feliz, pois o ex-ministro Ernane Galvêas, lá presente, comemorava 97 anos de uma vida profícua.

Naquela oportunidade, na seção de debates, o conselheiro Antonio Celso Alves Pereira, hoje presidindo o Centro Universitário de Valença, criticou a nossa rede básica, “hoje uma lástima”. O quadro, segundo ele, é mesmo inquietante, pois o país está quebrado. Como superar essas dificuldades?