Escolas americanas sofrem com a crise econômica


Arnaldo Niskier

Uma visita aos Estados Unidos permite observar ao vivo os efeitos da crise econômica. Não é só a oferta de empregos que se torna mais escassa. A educação, pela qual o presidente Obama demonstra tanto carinho, também apresenta sintomas doentios, que se agravam à medida que os fundos federais de incentivo ao setor educativo dão sinais de esgotamento. Eles chamam o fenômeno de estresse financeiro.
 
Distritos escolares sofrem grandes cortes orçamentários, o que apresenta consequências claras: faltam professores, classes de maior tamanho (providência que sempre foi recusada pelos educadores norteamericanos), menores salários e menos atividades extraclasse, além da redução de programas de verão. É como se fosse estabelecida uma “política de guerra”, embora em aparente tempo de paz (Afeganistão e Iraque consomem bilhões de dólares).
A Califórnia, que muitos consideram o quinto país do mundo, vive tempos inusitados, com um déficit gigantesco em seu orçamento. Não resta às autoridades outra alternativa senão dispensar professores e compactar as classes, o que naturalmente trará consequências danosas para a qualidade do ensino. 
 
Em plena e vitoriosa campanha e depois no primeiro ano do seu governo, o presidente Obama prometeu muito, em matéria de educação: “Eu não irei aceitar uma América em que as crianças não tenham chance à educação... Todas as crianças devem ter as mesmas chances dos nossos filhos” Ou então: “Quero dirigir uma nova era de responsabilidade mútua na educação – uma era em que todos caminharemos juntos em nome do sucesso das nossas crianças.”
Embora tenha prometido “um número suficiente de professores qualificados e com apoio contínuo”, o que permitiria “um programa escolar inovador”, na realidade isso não tem ocorrido, impedindo a ampliação da produtividade como um todo.
 
Numa sociedade competitiva – e com a China crescendo cada vez de forma ainda mais significativa – preocupa o povo americano a possível perda de qualidade da sua educação. 
A crise vivida hoje pelos EUA caracteriza-se pelo alto desemprego, a lentidão das vendas e a redução dos preços das propriedades imobiliárias (com uma oferta desmesurada). Os Estados enfrentam um quadro financeiro crítico. Com um aporte (insuficiente) de 100 bilhões de dólares, a Casa Branca pelo menos salvou cerca de 250 mil empregos somente na área da educação, hoje sobrecarregada inclusive pela acolhida a estudantes haitianos, após o trágico terremoto.
Escolas deixam de funcionar nas férias, para economizar energia, e o transporte escolar é submetido a novas rotas, para reduzir seus gastos. O que está acontecendo, para tristeza do presidente Obama, é que se vai aprofundando a distância entre os distritos ricos e os pobres, ampliando a considerável desigualdade.
 
Sem garantia do próximo passo, os educadores se veem às voltas com propostas antes impensáveis, como convencer 39 mil funcionários de escolas públicas a se aposentar precocemente, o que, aliás, já está acontecendo na Califórnia. Desde a Grande Depressão que não se tem um quadro assim tão próximo do cataclisma. Escolas primárias anunciam o fim das aulas de música e artes plásticas, de que o sistema norte-americano tanto se orgulhava. Cava-se um fosso maior ente os estudantes negros e hispânicos e os seus colegas de procedências anglo-saxônica ou asiática. É uma crise de grandes proporções.