Cérebro e computador


Arnaldo Niskier

O cérebro normal de uma criança cresce até os cinco anos de idade e alcança um total de cerca de 90 bilhões de neurônios.  Essa verdade não nasceu hoje, quando há um extraordinário avanço em tudo o que se refere à neurociência.  Mas é possível encontrar os prolegômenos da ideia em trabalhos como os do cientista e professor Josué de Castro, autor do célebre “Geografia da Fome”.  A desnutrição nos primeiros anos de vida provoca sequelas quase sempre irreversíveis, no crescimento do cérebro.  Aí pode estar também a  raiz das nossas clássicas dificuldades de alfabetização (hoje, ainda temos cerca de 14 milhões de adultos analfabetos).
 
 Crianças nutridas adequadamente e recebendo educação de alto nível poderão se transformar nos cientistas de que carecemos, como reconheceu a própria presidente Dilma Rousseff.  O seu programa “ciência sem fronteiras” busca exatamente a correção desse problema crônico, na educação brasileira.  Entendemos que não basta enviar nossos jovens para os grandes centros mundiais de pesquisa.  Eles voltam (quando voltam) e não encontram ambientes propícios ao desenvolvimento das suas habilidades.  É mais um tempo desperdiçado e recursos jogados fora.
 
Com a interface cérebro-máquina agora existente temos possibilidades incríveis de expansão do conhecimento, mas isso não começa nas universidades e sim nos primeiros anos de escolaridade.  Inovação é  um conceito muito amplo, que não pode ser introjetado na cabeça dos estudantes de repente, numa determinada série.  Isso vem desde cedo, com professores bem preparados e estimulados a valorizar as conquistas científicas e tecnológicas.
 
É claro que todos  sabemos o vulto do desafio.  Às vezes nos espantamos com certas decisões aparentemente incompreensíveis, como a importação de médicos cubanos, “para trabalhar no interior do país”.  Quem garante a competência deles para enfrentar os desafios da medicina tropical? Nem a desculpa de que trata de uma solução de emergência tem cabimento, até porque isso se  vai perigosamente ampliando.  Começou na engenharia e agora chega à medicina.
 
Temos é que formar de modo competente os nossos jovens, com uma educação de primeira classe.  Imaginar que a importação de cérebros estranhos à nossa realidade seja uma boa solução é tentar resolver o problema pelo facilitário.  Devemos acelerar a formação de cientistas em nosso país (existe um pequeno aumento nesse número), para aproveitar de modo inteligente a extraordinária reserva da biodiversidade brasileira.  Educando os jovens, certamente, eles irão influenciar os pais – e assim se forma a equação do nosso progresso.  Cérebro e computador não podem caminhar dissociados.