Crônica: Café é cultura

Arnaldo Niskier
Durante um bom tempo, a cidade fluminense de Vassouras foi a  principal produtora de café do Brasil. E ali  nasceram diversas e importantes fazendas, como a de São Luís da Boa Sorte, hoje entregue ao desvelo e à competência do casal Liliana e Nestor Rocha. Tive o prazer de ajudar nas obras de restauro da fazenda, quando fui  procurado pelo casal ao ocupar o posto de Secretário de Estado de Cultura do Rio de Janeiro. Ajudei  em tudo o que pude.
 
Hoje, a fazenda é um grande ponto de referência cultural. Dispõe até de um muito bem orientado Museu do Café, onde são expostas aos visitantes as características daquela obra  sobretudo cultural.
 
O conjunto contempla a Capela de São Luís, de quase 200 anos, criada ainda nos tempos da família Ribeiro de Avellar. Um registro que se torna indispensável é  a conservação dos bens relativos à mata atlântica, convivendo com o plantio de mudas de café que logo se adaptaram à região e produziram uma rubiácea de excelente paladar.
 
Liliana Rodriguez tem um excelente texto e descreve com muita propriedade as incidências do ciclo do café no Vale do Paraíba, que passa pela genealogia das famílias que viveram na região e colaboraram para o seu enriquecimento. Houve uma histórica noite em que o Conde d’Eu passou na fazenda e as peripécias de jogador e de namorador do coronel João Gomes dos Reis, cuja família deteve a propriedade até o ano de 1942.
 
Depois do apogeu do Ciclo do Café veio o declínio, com a marca da nossa triste estratificação social. A presença dos escravisados é um capítulo lamentável da nossa história, que é contada aos visitantes de hoje, com a natural curiosidade de uma fase  realmente importante da nossa história.
 
Hoje, planta-se café somente para o consumo doméstico e mesmo assim assegurada uma  qualidade especial. Mas quem frequenta o local, em a presença de vários  coelhos e outros animais, o  já citado Museu do Café e a oferta de doces de todas as espécies, produzidos pelas doceiras locais, além de uma comida deliciosa. E, acima de tudo, a preservação de uma arquitetura antiga e primorosa. Vale a pena a visita.