Rio, teu cenário é uma beleza
Arnaldo Niskier
Com a decisão da Unesco, tomada em São Petersburgo (Rússia) de dar o título de Patrimônio Cultural da Humanidade à cidade do Rio de Janeiro, o que era aguardado com muita ansiedade, a primeira lembrança que nos veio à mente foi o samba da Mangueira, aquele que fala em “teu cenário é uma beleza”. A premiação foi na categoria Paisagem Cultural, associada à valorização da natureza. Dizer que foi justo é muito pouco. Veio na hora devida, quando o Rio se prepara para novos e imensos desafios, como a Copa do Mundo de 2014 e as Olimpíadas de 2016.
Quem sobe ao Corcovado ou ao Pão de Açúcar, em dia de sol forte, tem uma vista deslumbrante da cidade de São Sebastião. Há outros ângulos igualmente incomparáveis, hoje mais disponíveis aos turistas com a criação das vitoriosas Unidades de Polícia Pacificadora. Subir ao Mirante D. Marta, antes, era correr risco de vida, saindo barato se fosse apenas um assalto.
Os que nasceram no Rio ou que moram no Rio, considerados igualmente cariocas, têm orgulho dessa cidade, tão bem cantada pela inspiração de autores como André Filho (“Cidade Maravilhosa”), Noel Rosa, Lamartine Babo, Vinicius de Moraes, Tom Jobim e tantos outros. No caso, temos que discordar do grande Paulinho da Viola: “Não foi um rio que passou em nossa vida”. Ficou para sempre, mesmo na memória dos que, por circunstâncias várias, deixaram de viver em nossa cidade.
Quando se fala em associação com a natureza, vem-nos à mente a Floresta da Tijuca, que frequentamos muito em nossa juventude. Antiga fazenda de café, outrora monocultura, foi revigorada pela intervenção do homem, que a transformou num paraíso ecológico, e aí pela decisão sábia do Imperador D. Pedro II, que foi o pai da maior floresta urbana do mundo.
Somos agora 19º patrimônio da humanidade, certificado pela Unesco no Brasil, fazendo justa companhia a outras atrações como o Parque Nacional do Iguaçu e o Pantanal (de Mato Grosso e Mato Grosso do Sul), como paisagens naturais, e as históricas Olinda, Goiás Velho e Ouro Preto, pela relevância cultural.
Vamos deixar a vaidade de lado e proclamar que somos muito ricos em paisagens verdadeiramente únicas. Querem outros exemplos? O Jardim Botânico, criado por D.João VI, a Baía de Guanabara, o Aterro do Flamengo, a Enseada de Botafogo (apesar de poluída), a Lagoa Rodrigo de Freitas e, pela mão do homem, o Estádio do Maracanã, de memoráveis conquistas.
Quando O Globo me perguntou o que um carioca de Pilares achava disso tudo, tive a inspiração de lembrar que o Rio é a terra também do genial Oscar Niemeyer. Os seus traços, de repercussão internacional, fazem justiça a uma das nossas maiores belezas naturais, que é a mulher aqui nascida. São curvas como não existem em qualquer outra parte do mundo.