Uma nova língua
Arnaldo Niskier
Um indivíduo levou uma pancada na cabeça. Demorou 20 anos para se recuperar. Quando finalmente acordou, pensou que estava em outro mundo. Não entendeu nada do que diziam os jornais e as pessoas à sua volta.
Olhou uma página digital. Depois de 10 minutos de garimpo, pediu socorro ao médico que o atendia. Achava que tinha ficado louco.
Não era para menos. Leu que o IRF ANVIEW permite fazer conversões de várias imagens ao mesmo tempo. Se quiser utilizar alguns programas gratuitos no seu PC com Windows, é preciso ver a lista de aplicativos. Vai além e registra que o VLC Player é uma excelente opção para ver vídeos e filmes no formato. AVI. E reconhece que toca músicas com uma fidelidade maior que a do Windows Media Player. A enfermeira ajuda, dizendo que as fotos de um bebê podem ser organizadas pelo F-Spot, gerenciador grátis para Linux. Lembrou do sobrinho que não via há muito tempo.
O nosso herói aprende ainda que o formato. RMVB é mais compacto, baixa da internet mais rápido e pode ser visto no Media Player Classic. Fica animado quando sabe que o Winamp ganhou até versão para Android e desconfia que esse é um assunto para amantes da música. Logo sua atenção se volta para o AVG Free, boa alternativa para proteger o PC. Quase desiste quando verifica que o BrOffice edita e salva documentos em formato Word, Excel e Power point e ainda pode exportar para PDF, que ele não sabe o que é. Nem Blackberry.
Descobre que um cientista da Universidade de Osaka, no Japão, criou um minirrobô que pode virar o smartphone do futuro e imita movimentos humanos.
Como tinha parado de estudar aos 16 anos de idade – e nada disso era falado há 20 anos – levou um baita susto. O desenvolvimento científico e tecnológico havia se expandido rapidamente em especial no campo da informática, que antigamente chamavam de cibernética, termo criado por Norbert Wiener: “Deve-se dar ao homem o que é do homem e à máquina o que é da máquina.” Até aí ele lembrava.
Ouviu um pouco sobre o significado de Facebook, Twitter, Google, Gmail, tablets, thumbnails, Youtube, plugin, startup, chrome, IPhone, IPad etc. Espantou-se ao saber que foi uma garotada que bolou isso tudo. E ficaram bilionários com os seus inventos, nascidos em grandes universidades norte-americanas.
O Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa, editado pela Academia Brasileira de Letras, tem perto de 400 mil verbetes. É uma das 10 línguas mais faladas do mundo, abrangendo povos que chegam a 240 milhões de falantes. É por essas e outras que existem movimentos de valorização do nosso idioma. É uma forma, na verdade, de tentar uma reação à parafernália eletrônica de que é pródiga a inclusão digital.