Como será o ano 2000?
Arnaldo Niskier
Quem me recorda o fato é o amigo Cid Heráclito de Queiroz, exemplar homem público, que hoje empresta o brilho da sua inteligência à Confederação Nacional do Comércio, Bens, Serviços e Turismo. Ele chama a minha atenção para uma antiga revista Manchete, de 30 de janeiro de 1982, em que foi feita, por inspiração do jornalista Justino Martins, matéria sobre “Como será o ano 2000”. O próprio Justino, na abertura da revista, sugere: “Guardem a revista, para depois conferir.”
Foi o que fez Cid Heráclito, com um comentário simpático: “Das 14 pessoas ouvidas, só três acertaram em cheio: o Boni, o Ernane Galvêas e você.” Deixando de lado os que sonharam utopias na antevisão de 28 anos, podemos afirmar que o homem da TV Globo previu que “o televisor será plano como um quadro de parede e a proporção será alterada para o formato cinemascope.” Já o ex-ministro da Fazenda, embora dizendo que é muito difícil fazer previsões em economia, foi enfático: “Será um tempo de valorização dos alimentos, com futuro para Estados Unidos, Canadá, África, Austrália e América Latina, com destaque para o Brasil.”
A nossa tarefa era falar sobre Educação. Vale a pena transcrever o texto publicado, no ano (1982) em que exercia as funções de Secretário de Estado de Educação e Cultura do Rio de Janeiro:
“Acho que no ano 2000 vamos ter saudades imensas do Padre José de Anchieta, que foi o nosso maior educador de todos os tempos: dava aulas ao ar livre, ou em escolas que não dispunham de nenhuma parafernália, como hoje se preconiza. Acredito que a geração da virada do século vai viver a glória do renascer do humanismo clássico. Possivelmente, deverá ser criada uma pílula contra o enjoo que até lá as máquinas terão deixado no estômago dos educadores. Os profetas que preconizam o domínio da máquina morrerão de fome e nós continuaremos a lutar em busca da felicidade, que será o fim supremo da educação. A tecnologia estará muito avançada, haverá incríveis máquinas de ensinar, mas não creio que os cientistas inventem um computador que, por si só, faça o milagre de estender o bem comum a todos.
Creio que o campo social, doravante, ganhará prioridades cada vez maiores nos planos governamentais – aqui e no exterior – para enfrentar o desafio da educação de massa. E creio que prevalecerá, no espírito dos homens, que é mais importante investir em educação do que aplicar 330 bilhões de dólares anuais na corrida armamentista. Devemos construir o nosso futuro na esperança de que parte desses recursos seja desviada para atenuar os indesejáveis problemas da fome, da ignorância e da pobreza absoluta de tantos países e de milhões de seres humanos. Pressinto que o mundo reverterá a atual tendência de correr para a guerra e vença a batalha com educação para todos.”
Como se vê, não temos vocação para Nostradamus, mas acertamos algumas questões que se tornaram cruciais, na sociedade brasileira, onde hoje existem mais de 20 milhões de internautas ativos. Infelizmente, isso não foi essencial para a mudança da qualidade da educação, que ainda é bastante precária entre nós.